Com a devida vénia transcreve-se um texto publicado pela LUSA em 21 de Setembro de 2018, no qual o Presidente do Conselho Económico e Social (CES) e ex-Ministro da Saúde, Correia de Campos de um governo socialista, adverte o governo do seu partido e a população em geral que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) corre o risco de se transformar numa caricatura, tecendo com estas palavras duras um "aviso à navegação" e uma crítica aos cortes que o actual Ministro das Finanças de António Costa, Mário Centeno tem feito, chamando-lhe enfaticamente: "cativações".
E tudo isto em nome da redução do "défice" e da estultícia de se querer chegar ao "zero", sem cuidar nas políticas contracionistas que tem levado a cabo, fazendo lembrar pelo "apertar do cinto" que estamos a regredir e a voltar, neste aspecto, aos anos de 1928 a 1932, quando Salazar procedeu ao saneamento das finanças portuguesas.
O texto parcial - que se apresenta - pela sua actualidade e frontalidade bem merece uma leitura atenta, sobretudo, porque ao arrepio da ideia do seu fundador António Arnaut e de quem o acompanhou, este notável Serviço social está a perder a "olhos vistos" a génese humanitária que lhe serviu de base.
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SNS
corre o risco de se transformar numa caricatura, diz Correia de Campos
O
Serviço Nacional de Saúde (SNS) "corre o risco de se transformar numa
caricatura do que pretendiam os seus fundadores" e precisa de "atenção
exigente e imediata", defendeu esta sexta-feira o ex-ministro da Saúde
Correia de Campos.
"Em
2018 o SNS corre o risco de se transformar numa caricatura do que pretendiam os
seus fundadores. Apesar do respeito universal de que goza, tem-se assistido ao
empalidecer dos atributos que o caracterizam", defendeu António Correia de
Campos, presidente do Conselho Económico e Social (CES) e ex-ministro da Saúde
do Governo socialista de José Sócrates.
O
presidente do CES falava no encerramento da conferência "A Saúde e o
Estado: o SNS aos 40 anos", que hoje decorreu no Fórum Lisboa.
Entre
os atributos que Correia de Campos entende estarem a desvanecer-se estão o
carácter universal do SNS, apenas usado por três quartos dos portugueses de
forma continuada; a prestação geral de cuidados, oferecendo um acesso
incompleto a algumas especialidades; e o custo tendencialmente gratuito para os
utilizadores, "que está a tornar-se tendencialmente pago".
Mas,
defendeu Correia de Campos, "mais preocupantes são as perdas reputacionais
que abalam a confiança dos cidadãos", que esperam demasiado por consultas
e cirurgias.
"Nos
tempos mais recentes, a reputação do SNS tem sido abalada por notícias, reais,
exageradas ou ficcionadas, sobre carências de equipamentos, de pessoal
especializado, de condições para intervenção indispensável. O clamor contra o
que se considera suborçamentação pública tem vindo a ser explorado até ao
infinito, por razões nem sempre descontaminadas do interesse material. Mas não
é normal, nem sustentável por muito tempo, que os reforços pós-orçamento de
2016 tenham atingido quase 1.500 milhões e as dívidas a mais de sessenta dias
300 milhões de euros, o que não se dissipou em 2017, com reforços pós-orçamento
de 1.150 milhões e cerca de 800 milhões de euros de dívidas por liquidar",
disse.
Ainda
que entenda que o SNS, com todos os problemas que enfrenta, esteja "muito
distante de uma crise grave", defendeu que "necessita de atenção
exigente e imediata", e apresentou quatro alternativas de modelo de
gestão.
Excluiu
a alternativa "mercantil", que deixa o SNS nas mãos de lógicas de
mercado, o que representa uma violação da Constituição e dos deveres do Estado
na oferta de cuidados de saúde; a alternativa "radical", que torna
público todo o sistema, uma vez que "não há Estado que neste momento
pudesse acolher um aumento da despesa pública que substituísse totalmente o
gasto privado"; e a alternativa "complacente", em que nada se
faz para mudar e que considera ser "simultaneamente inoperante e
desastrosa", com o potencial de entregar o sistema a forças de mercado às
quais "não se pode pedir que promovam a equidade".
"Estas
razões conduzem-nos à alternativa "reformadora". O sistema pode ser
modernizado sem trauma, os seus princípios e valores, os da Constituição,
reforçados e mais bem garantidos. As reformas propostas não são exclusivas, mas
inclusivas, Não destroem os parceiros do SNS, não corroem o sector público, não
rompem com os sucessos passados. São propostas equilibradas, modernas,
respeitam princípios e valores e direitos dos cidadãos sem esquecer os que
dedicaram a sua vida ao SNS e à saúde dos Portugueses. O mercado não é
hostilizado, mas regulado. O Estado não é endeusado, mas utilizado nas funções
estratégicas e reguladoras que lhe incumbem num estado de direito", disse.
Numa
altura em que se discutem alterações à Lei de Bases da Saúde, Correia de Campos
defendeu que "qualquer reforma do SNS terá que honrar os que a ele se
dedicaram", alertando, no entanto, que "o SNS não existe para dar
emprego, mas para servir os portugueses".
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