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quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Eu prefiro...

in, Jornal de Notícias de 26 de Setembro de 2018

in, Jornal "i" de 26 de Setembro de 2018
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Eu prefiro acreditar para meu descanso intelectual e moral que estes dois Jornais diários estão enganados, porque a ser verdade - se esta se vier a revelar como correspondendo às notícias de primeira página de ambos os jornais - aquele Portugal do D. Jaime, de Tomás Ribeiro, já não existe. 

Meu Portugal, meu berço de inocente,
lisa estrada que andei débil infante,
variado jardim do adolescente,
meu laranjal em flor sempre odorante,
minha tarde de amor, meu dia ardente,
minha noite de estrelas rutilante,
meu vergado pomar dum rico outono,
sê meu berço final no último sono!

Como o Poeta, eu peço "sê meu berço final no último sono" e que este quando vier me encontre mais refeito com o velho Portugal dos meus avós, porque no momento vivo um desconforto próprio - penso eu - de um velho cidadão que levou uma vida inteira de trabalho e de respeito pelos homens, ao ver o desalinho em que Portugal está a cair nalguns campos da sociedade civil e militar de onde deviam derivar os exemplos, como se do cimo da pirâmide eles acenassem a bandeira cívica de vivermos sem as sombras que vão enchendo por demais os nossos dias.

Não é isso que acontece.

Que eu me lembre desde o derrube da ditadura, apenas um Ministro, Jorge Coelho, que detinha a pasta das Obras Públicas quando eclodiu a Ponte Hintze Ribeiro em Entre-os-Rios, embora nada tivesse contribuído para o desastre, se demitiu - dizendo que "a culpa não pode morrer solteira", mas esse exemplo não fez escola.
Mas devia ter feito, porque a escola comportamental do quotidiano devia assentar, indefectivelmente, em cima de princípios básicos - mas fundamentais - da vida social a exigir comportamentos assim, razão que me leva a pensar que devia ter havido lugar à demissão na altura própria do actual Ministro da Defesa, no sentido de acelerar o apuramento da verdade e dos culpados.

Uma coisa é certa.

Um País que deixa roubar material de guerra como aconteceu em Tancos, tendo como horizonte bélico a presunção que aquele material estava ali, obsoleto ou não, para nossa defesa comum,  não merece que os seus responsáveis directos ou indirectos não sejam chamados a contas como agora está a acontecer e, por isso, como "não há fumo sem fogo" eu acredito que os jornais citados estão em cima de alguma verdade e é, por isso, que eu tenho o dever de continuar a acreditar em Portugal, de cujas raízes nasci nas terras áridas, pobres, mas ricas de valores humanos numa aldeia serrana da Beira Baixa, oriunda das lutas do "Viriato Trágico" que foi cantado por Brás Garcia de Mascarenhas e cuja vida devia servir de exemplo.

Mas eu tenho o dever de acreditar em Portugal e nos homens que neste momento gerem o nosso destino comum,  pese embora, ser difusa a hora que vivemos a sofrer de alguma sombra que um dia se dissipará, tendo em conta que em todos os tempos as sociedades não são lineares nos seus modos vivenciais, mercê das sombras que acontecem como se fossem frutos verdes de um pomar colhido antes do tempo.

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