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sábado, 29 de setembro de 2018

"Falta-me Algo" - Um poema de Alírio Polo

Falta-me Algo


Mergulhado nas profundezas
de infinitas incertezas,
longe de mim,
perdido no além
da inconstância do meu sentir
e com o carma de um ser refém.

Rasgo o tempo
na procura de um sentido,
desbravo o mar
tentando achar um caminho
que me conduza à um destino sem endereço
onde o meu vazio eu possa completar,
mas cada vez mais esmoreço
por não haver caminho a trilhar.

Sou como um pedaço de papel jogado ao ar,
voo sem rumo e sem lugar para pousar,
seguindo apenas o soprar dos ventos
que me levam à lugares que desconheço.

Paro, então, no topo de uma montanha
incapaz de continuar seguindo os ventos pelo estado amassado
e só assim descubro que tenho minhas próprias asas,
invento o meu caminho e jogo-me até à beira de um lago.

Vejo o meu rosto reflectido na água cristalina
e encontro o que, há muito, eu procurava,
no olhar profundo de minha retina
descubro que é de mim mesmo que eu sinto falta.

Alírio Polo
in,  "Escritos da Madrugada" - Uma conversa com a alma

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Que dizer?

Que não conheço o autor, mas conheço por esta poesia a que ele deu sem rodeios o nome "Falta-me Algo" que no modo como conduz o seu pensamento para o desfecho final em que ao falar com a sua alma - sub-título do nome do seu Livro de poemas - há no encadear das estrofes um ritmo humano de grande verdade consigo mesmo  e ao dizer "Paro, então, no topo de uma montanha" - sem ser esta um acidente físico da orografia - ela constitui, na sua mente, o momento exacto em que é preciso que o homem suba ao mais alto de si mesmo para perceber que Deus para além do seu corpo lhe deu "asas" para ele poder voar, como fez o Poeta até cair "à beira de um lago"...

De que serviu este "vôo"?

Para ele nos dizer que foi a partir de ter aberto as suas "asas" e depois de ter visto o seu rosto "reflectido na água cristalina" - que é, apenas, o lago existencial onde vive, não a "retina" dos seus olhos, mas a que existe no seu destemor de perguntar a si mesmo o que lhe fazia falta, num êxtase, descobriu que ela existia dentro do seu próprio ser e é nesta constatação cheia de sentido humanista que o Poeta adverte todos os homens, para a necessidade de cada um se buscar dentro de si mesmo, porque só depois desse encontro é que se pode jogar com altruísmo o jogo existencial da vida que Deus nos deu.

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