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terça-feira, 11 de setembro de 2018

"A MULHER" - Um poema de Amado Nervo



A MULHER

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Ao ler uma vez mais este poema do livro PLENITUDE da autoria do poeta mexicano que teve o dom de presentear todos os seus leitores com uma poesia de cariz modernista que influenciou grandemente uma corrente hispano-americana de contornos que o definiram como um poeta e pensador de fina água, neste poema faz alarde de um extremo cuidado que lhe mereceu a figura da MULHER, ao ponto de a chamar uma íntima colaboradora de Deus - e de dizer sem rodeios - "A sua carne não é como a nossa carne" e que na mais vil existe sempre "alguma coisa de divino", Amado Nervo assumiu-se  - pensador que era - como uma testemunha orante de Deus que fez a mulher para vir a ser a mãe e todos os homens.

Só quem passa a correr pelo poema e por estes conceitos é que os pode julgar desconexos ou descabidos, não o sendo de forma alguma, porque é na mulher que reside muita da quietude e da paz que ela dá ao homem mais afrontado, porque é nela que reside com mais acuidade o dom da Criação que fez dela não apenas a companheira do homem, mas com a diferença da sua carne não ser como a carne do homem, porque a sua carne é mais sofredora, a começar pelas dores do parto ao dar à luz o fruto do seu ventre.

Que nós, homens, jamais nos esqueçamos disto.

Eis, porque não deixa de ser quase divinal, o que diz Amado Nervo a abrir o poema: "não a firas sequer com o pensamento", ao invés dos marialvas que apenas vêem na mulher um objecto de prazer, esquecendo-se que, homens que são, nasceram de suas mães, as mulheres enaltecidas neste poema de rara inspiração humanista e, onde, se prefigura com todo o ênfase um outro célebre poema, pertencente a Victor Hugo e que ao fazer o paralelo entre os dos seres criados por Deus para perpetuarem a sua Obra humana sobre a Terra, é sempre a mulher a que é mais exaltada.

Vale a penas ler e meditar nesta música mística, humanista e bela como é o poema de Amado Nervo, a quem fico a dever o facto de me ter guiado para este célebre autor.


O Homem e a Mulher

O homem é a mais elevada das criaturas.
A mulher, o mais sublime dos ideais.

Deus fez para o homem um trono; para a mulher fez um altar.
O trono exalta e o altar santifica.

O homem é o cérebro; a mulher, o coração. O cérebro produz a luz; o coração produz amor. A luz fecunda; o amor ressuscita.

O homem é o génio; a mulher é o anjo. O génio é imensurável; o anjo é indefinível;
A aspiração do homem é a suprema glória; a aspiração da mulher é a virtude extrema; 

A glória promove a grandeza e a virtude, a divindade.

O homem tem a supremacia; a mulher, a preferência. A supremacia significa a força; a preferência representa o direito.

O homem é forte pela razão; a mulher, invencível pelas lágrimas.
A razão convence e as lágrimas comovem.

O homem é capaz de todos os heroísmos; a mulher, de todos os martírios. 
O heroísmo enobrece e o martírio purifica.

O homem pensa e a mulher sonha. Pensar é ter uma larva no cérebro; sonhar é ter na fronte uma auréola.

O homem é a águia que voa; a mulher, o rouxinol que canta. Voar é dominar o espaço e cantar é conquistar a alma.

Enfim, o homem está colocado onde termina a terra; a mulher, onde começa o céu. 

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