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domingo, 8 de outubro de 2017

Uma lembrança de Inês de Castro: uma galega que ficou na História de Portugal

Túmulo de Inês de Castro no Mosteiro da Batalha
in, Revista "O Occidente" de 21 de Agosto de 1893


O drama humano que veio a sofrer em terras lusitanas D. Inês de Castro, filha do mordomo-mor do rei Afonso XI de Castela, D. Pedro Fernandes de Castro e da portuguesa Aldonça Lourenço de Valadares, é o resultado do Infante D. Pedro I de Portugal se ter apaixonado por esta galega, aia de sua mulher D. Constança Manuel, com quem casara na Sé de Lisboa em 1339.

Mal visto este amor na corte por temer a influência de Castela sobre o Infante, tendo à frente o parecer afirmativo do pai, D. Afonso IV, que a desterrou para o castelo raiano de Albuquerque, sem contudo ter esmorecido o amor do Infante por D. Inês, tendo-se tudo precipitado com a morte prematura de D. Constança Manuel. Viúvo, contra a vontade do pai D. Pedro impôs o seu amor, levando D. Afonso IV - contra vontade - a chamar do exílio a linda galega, o que originou um grande mal estar na corte.

Ainda tentou D. Afonso IV casar o infante com uma dama de sangue real, o que D Pedro recusou e como ia tendo filhos de D. Inês, a corte teve de se vergar, sem deixar de malsinar contra ela, a ponto de ter levado o Rei a consentir no seu assassinato.

Esta é, em breves palavras o resumo do grande drama de amor que Camões, o Príncipe dos Poetas portugueses veio a imortalizar do seguinte modo no seu livro imortal "Os Lusíadas". (estrofes 120 a 135 do Canto III)

 
        "Estavas, linda Inês, posta em sossego, 
        De teus anos colhendo doce fruto, 
        Naquele engano da alma, ledo e cego, 
        Que a fortuna não deixa durar muito, 
        Nos saudosos campos do Mondego, 
        De teus formosos olhos nunca enxuto, 
        Aos montes ensinando e às ervinhas 
        O nome que no peito escrito tinhas. 
 
        "Do teu Príncipe ali te respondiam 
        As lembranças que na alma lhe moravam, 
        Que sempre ante seus olhos te traziam, 
        Quando dos teus formosos se apartavam: 
        De noite em doces sonhos, que mentiam, 
        De dia em pensamentos, que voavam. 
        E quanto enfim cuidava, e quanto via, 
        Eram tudo memórias de alegria. 
 
        "De outras belas senhoras e Princesas 
        Os desejados tálamos enjeita, 
        Que tudo enfim, tu, puro amor, despreza, 
        Quando um gesto suave te sujeita. 
        Vendo estas namoradas estranhezas 
        O velho pai sisudo, que respeita 
        O murmurar do povo, e a fantasia 
        Do filho, que casar-se não queria, 

        "Tirar Inês ao mundo determina, 
        Por lhe tirar o filho que tem preso, 
        Crendo co'o sangue só da morte indina 
        Matar do firme amor o fogo aceso. 
        Que furor consentiu que a espada fina, 
        Que pôde sustentar o grande peso 
        Do furor Mauro, fosse alevantada 
        Contra uma fraca dama delicada? 
 
        "Traziam-na os horríficos algozes 
        Ante o Rei, já movido a piedade: 
        Mas o povo, com falsas e ferozes 
        Razões, à morte crua o persuade. 
        Ela com tristes o piedosas vozes, 
        Saídas só da mágoa, e saudade 
        Do seu Príncipe, e filhos que deixava, 
        Que mais que a própria morte a magoava, 
 
        "Para o Céu cristalino alevantando 
        Com lágrimas os olhos piedosos, 
        Os olhos, porque as mãos lhe estava atando 
        Um dos duros ministros rigorosos; 
        E depois nos meninos atentando, 
        Que tão queridos tinha, e tão mimosos, 
        Cuja orfandade como mãe temia, 
        Para o avô cruel assim dizia: 

        — "Se já nas brutas feras, cuja mente 
        Natura fez cruel de nascimento, 
        E nas aves agrestes, que somente 
        Nas rapinas aéreas têm o intento, 
        Com pequenas crianças viu a gente 
        Terem tão piedoso sentimento, 
        Como coa mãe de Nino já mostraram, 
        E colos irmãos que Roma edificaram; 
 
        —"Ó tu, que tens de humano o gesto e o peito  
        (Se de humano é matar uma donzela  
        Fraca e sem força, só por ter sujeito  
        O coração a quem soube vencê-la)  
        A estas criancinhas tem respeito,  
        Pois o não tens à morte escura dela;  
        Mova-te a piedade sua e minha, 
        Pois te não move a culpa que não tinha. 

        — "E se, vencendo a Maura resistência, 
        A morte sabes dar com fogo e ferro, 
        Sabe também dar vicia com clemência 
        A quem para perdê-la não fez erro. 
        Mas se to assim merece esta inocência, 
        Põe-me em perpétuo e mísero desterro, 
        Na Cítia f ria, ou lá na Líbia ardente, 
        Onde em lágrimas viva eternamente. 
 
        "Põe-me onde se use toda a feridade, 
        Entre leões e tigres, e verei 
        Se neles achar posso a piedade 
        Que entre peitos humanos não achei: 
        Ali com o amor intrínseco e vontade 
        Naquele por quem morro, criarei 
        Estas relíquias suas que aqui viste, 
        Que refrigério sejam da mãe triste." — 

        Movido das palavras que o magoam; 
        Mas o pertinaz povo, e seu destino 
        (Que desta sorte o quis) lhe não perdoam. 
        Arrancam das espadas de aço fino 
        Os que por bom tal feito ali apregoam. 
        Contra uma dama, ó peitos carniceiros, 
        Feros vos amostrais, e cavaleiros? 

        "Qual contra a linda moça Policena, 
        Consolação extrema da mãe velha, 
        Porque a sombra de Aquiles a condena, 
        Co'o ferro o duro Pirro se aparelha; 
        Mas ela os olhos com que o ar serena 
        (Bem como paciente e mansa ovelha) 
        Na mísera mãe postos, que endoudece, 
        Ao duro sacrifício se oferece: 

        "Tais contra Inês os brutos matadores 
        No colo de alabastro, que sustinha 
        As obras com que Amor matou de amores 
        Aquele que depois a fez Rainha; 
        As espadas banhando, e as brancas flores, 
        Que ela dos olhos seus regadas tinha, 
        Se encarniçavam, férvidos e irosos, 
        No futuro castigo não cuidosos. 

        "Bem puderas, ó Sol, da vista destes 
        Teus raios apartar aquele dia, 
        Como da seva mesa de Tiestes, 
        Quando os filhos por mão de Atreu comia. 
        Vós, ó côncavos vales, que pudestes 
        A voz extrema ouvir da boca fria, 
        O nome do seu Pedro, que lhe ouvistes, 
        Por muito grande espaço repetisses! 

        "Assim como a bonina, que cortada 
        Antes do tempo foi, cândida e bela, 
        Sendo das mãos lascivas maltratada 
        Da menina que a trouxe na capela, 
        O cheiro traz perdido e a cor murchada: 
        Tal está morta a pálida donzela, 
        Secas do rosto as rosas, e perdida 
        A branca e viva cor, coa doce vida. 
 
        "As filhas do Mondego a morte escura 
        Longo tempo chorando memoraram, 
        E, por memória eterna, em fonte pura 
        As lágrimas choradas transformaram; 
        O nome lhe puseram, que inda dura, 
        Dos amores de Inês que ali passaram. 
        Vede que fresca fonte rega as flores, 
        Que lágrimas são a água, e o nome amores.  


Que quem passar por Alcobaça nunca se esqueça, de ante o belo túmulo de Inês de Castro lembrar o amor que a uniu a D Pedro, que ao lado continua num amor tumular unido àquela mulher que o ódio político matou. e se se lembrar, erga uma oração de lembrança por ela, e por todas as mulheres - e homens - que o ódio tem matado ao longo dos séculos, numa prova evidente que dentro de cada homem pode haver uma fera adormecida.

"Com teus olhos" - um poema de Alberto Bramão


fac-símile da Revista "Ilustração Portuguesa . 2ª série- 14 de Abril de 1923
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Nesta fase da vida em que ir atrás de velhas lembranças é um modo que eu tenho de continuar a seguir em frente para cumprir a vida que Deus me deu, o meu olhar atencioso ficou preso. há dias, a este pequeno poema de D. Alberto Bramão - como no seu tempo literariamente foi conhecido - e que, conforme se lê faz parte de um livro seu "Crepúsculos" que entre outros enriquece o seu acervo literário de rara beleza, em que os seus atributos de sociólogo e moralista acentuam o modo como viveu e escreveu os seus livros.

Fica aqui como testemunho de uma vida que aliou a Literatura ao pendor político que fez dele um homem interessado na vida portuguesa desde os tempos da Monarquia Constitucional - que o levou à prisão nos seus últimos anos - até à República nascente, que serviu.

sábado, 7 de outubro de 2017

"A Janela dos Teus Olhos"

in, Revista "Ilustração Portuguesa" nº 900  - 2ª série - 19 de Maio de 1923


Este poema "A Janela dos Teus Olhos" de Guilherme Felgueiras, um colaborador da "Ilustração Portuguesa" - que segundo penso não deixou nome na Literatura Portuguesa - é contudo, pela métrica, pelo estilo e pela formosa composição amorosa, um exemplo que prova que a Poesia vive na alma do povo, escondida tantas vezes, mas, como aconteceu com este autor viu a "luz do dia" pela sageza da Redacção desta famosa Revista de publicação semanal que teve no extinto jornal "O Século" desde a sua origem (1903) a 1924 a honra de ter merecido as suas edições.

Olhando o tempo que passa, algo mudou de uma certa beleza e acção editorial que dava provas de um grande amor às Letras e ao modo como acarinhava os que, como o feliz autor deste cântico e amor, se podiam exprimir, dando largas ao estro poético, ou não, para deixarem atrás de si um rasto de luz, como este, em que emoldurado em formosas quadras o Poeta a abrir, tem desde logo, este modo carinhoso como se dirige à sua amada 

Teus olhos são gelosias
Onde espreitam as pupilas.
Quem dera dar-te os bons dias
Quando resolves abri-las.

Perfeita na forma e no conteúdo esta quadra faz arrastar amorosamente toas as quadras do Poema, como se ela mesmo fosse a gelosia para através dela se pudessem ver as restantes.
Basta ler o Poema.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

A dívida pública portuguesa...


A dívida pública portuguesa é superior a 250 mil milhões de euros...

Pouca coisa, não é?
Até parece que sim - vendo a descontracção do povo a quem pouco ou nada se diz sobre este assunto - e no entanto para a pagar cada português tinha de entregar aos credores 25.000 mil euros!
  • Porque será que não se fala disto?
  • Não dá jeito nem rende votos...
  • É não é?
  • Pois é!
Esperemos que o Senhor António Costa e os seus apaniguados a vão pagando, mas como as dívidas não se pegam com "espertezas" vai ser difícil... com a bolsa a alargar cada vez mais a pedido dos parceiros que lhe mantêm o poder!

Por fim...


Por fim, tenho para mim como um dado certo, que não apenas António Costa que se vai ver livre, politicamente - por agora - de Passos Coelho, como o Presidente da República, olham para este facto e sentem-se aliviados.

Não há ninguém que me tire isto da cabeça!

A costela transmontana do Passos Coelho era um osso duro de roer... mas um e outro fizeram nela mossa suficiente para ele abalar.

A política que temos... mas não merecemos!

in, Jornal "Publico" de 4 de Outubro de 2017

Resultados finais da votação popular no PSD - PS - BE e PCP-PEV 
das eleições de 4 de Outubro de 2015


Vencido por um jogo de sombras urdido por António Costa no pós-eleições legislativas de 4 de Outubro de 2015, nas quais o Partido Socialista (PS) não logrou de-per-si ganhar as eleições - onde o PSD coligado com o CDS-PP foram os partidos vencedores -  conforme quadro que acima se reproduz a parir dos dados oficiais publicados pela Secretaria Geral do Ministério da Administração Interna (SCMAI), Passos Coelho conforme relatam, hoje, os jornais não se vai recandidatar às próximas eleições internas do seu partido, abdicando assim de continuar a ser o seu líder e, em consequência, não se apresenta como candidato a Primeiro-Ministro nas eleições legislativas de 2019.

Passos Coelho chamou a si a dignidade de sair pelo seu pé e este gesto demonstra que é um homem livre, o que não posso deixar de aplaudir, na certeza que tenho que são homens destes que fazem falta à sociedade.

Portugal deve muito a este homem que herdou do Partido Socialista uma pré-bancarrota e a quem coube dirigir uma política de contenção de gastos imposta pela finança internacional, o que apesar disso, não deixou que o povo português nas eleições já referidas tivesse dado a vitória eleitoral à coligação que apresentou a votos, às claras e no devido tempo, o que António Costa não fez.

Penso, contudo, que Passos Coelho, vencido - é verdade - é uma prova iniludível que a baixa política que desde 1820 impera em Portugal, teve mais uma vitória e neste momento, é vencedora.

Isto não se pode negar, tão evidente que é.

Resta, contudo, render a Passos Coelho a homenagem que lhe é devida e que só não tem, como devia ter, as devidas honras, porque tal desiderato não tem cabimento na cartilha enviesada como se faz a política que temos... mas não merecemos!

Pessoalmente, fica aqui, o meu aplauso a Passos Coelho e à forma difícil como pôs à tona de água entre 2011 a 2015 a nau portuguesa que esteve prestes a ir ao fundo e esta verdade por muito que doa aos seus adversários políticas +e uma honra que no devir dos tempos, os portugueses lhe hão-de render, porque a História das Pátrias e dos homens que a conduziram nunca se faz em cima do tempo, mas no que vem depois.

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Luzes e Sombras!


Passei, ontem, pelo Jardim de um parque público, neste Outono por demais soalheiro e ao olhar as luzes e as sombras ambientais que ante os meus olhos se apresentavam numa moldura natural e muito bela, lembrei-me de fotografar a beleza que recebia de graça e sobre ela, mentalmente, fui compondo esta meditação:

Que eu e tu,
Querido companheiro – ou companheira –
Desta jornada breve
Em que Deus nos pôs a viver um mesmo tempo,
Ainda que em separados espaços,
Saibamos em qualquer dos caminhos
Por onde havemos de passar
Sermos mais luzes que sombras!

É imperioso que assim seja, neste tempo
E em qualquer espaço que ocupemos, hoje,
Amanhã, ou noutro dia qualquer,
Porque é importante que seja assim o sentido
Da nossa caminhada:

Sermos mais luzes que sombras!

Mas saber e aceitar todas as sombras,
Na certeza que é sempre delas
Que podem nascer todas as luzes!

O que deixo aqui foi um pensamento que me acompanhou pelo resto do caminho, enquanto ia pensando nos companheiros que conheci  e que, podendo ter sido luzes, deixaram que o destino os vencesse pelo poder das sombras.

Não nos iludamos: as sombras têm poder!

Todos nós, por algum aspecto conhecemos tragédias iguais, como conhecemos o inverso, o que prova que todos os caminhos podem e devem num ponto qualquer - como acontece nas rodovias - ter um ponto de viragem para emendar o caminho que por percalço se tomou, e percorrê-lo, mas então com a luz que se impõe vendo às claras aquilo que se andou às escuras!

E porque assim deve ser,

Sermos mais luzes que sombras!

Mas saber e aceitar todas as sombras,
Na certeza que é sempre delas
Que podem nascer todas as luzes!

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Um azulejo cheio de sabedoria!



Desconheço o autor.

Mas, de forma alguma, desconheço a sabedoria encerrada neste azulejo, que tem de sobejo, um modo sábio de falar da grandeza que existe no dar, muito mais que no receber, porque é no dar que se recebe, podendo afirmar-se que foi pensando deste modo que José Luís Nunes Martins (in Citador) escreveu: "É quando nos damos aos outros que nos recebemos a nós mesmos" um aforismo cheio daquela humanidade que existe na frase sábia deste azulejo.


O poeta e pensador libanês Khalil Gibran, a este propósito teceu, um dia, uma comparação da acção do homem que se julga valer muito mas dando pouco de si mesmo, confrontando-o com as árvores dos seus pomares, que valendo muito pela fruta que ostentam no tempo da colheita, lhes diz esta verdade: "os vossos pomares não pensam assim; dão para continuar a viver, Pois reter é perecer".

"Pois reter é perecer".

E é, neste ponto, que no discorrer da minha imaginação me vem , num repente, não um outro qualquer pensamento de pessoa ilustre, mas aquele rifão popular e muito português que diz assim: "Quem dá aos pobres empresta a Deus" e com essa atitude o homem não perece, quer seja aos olhos do Mundo, mas especialmente, aos "olhos de Deus", que o distinguirá, um dia, pelo valor daquilo que deu!

sábado, 30 de setembro de 2017

Uma lembrança de "Os Homens e a História"


2 de Julho de 1916


Porque António Ferro é mais conhecido por ter sugerido a Salazar em 1932 um Organismo que fizesse a propaganda do regime e ter sido o autor de algumas entrevistas sobre o Estado Novo, publicadas no Diário de Notícias, depois, publicadas em livro (1933) a que acresceu o facto de ter sido chamado a dirigir o SPN (Secretariado da Propaganda Nacional) que antecedeu o SNI (Secretariado Nacional de Informação) que dirigiu até 1949, razão pela qual o seu nome foi completamente abafado pelos tempos que vivemos, como se ao homem não fosse dado o direito de viver o seu tempo e ser nele  um agente culturalmente activo, ainda que por caminhos que no devir dos tempos se tornaram obsoletos.

Historicamente o homem deve ser julgado pelo tempo em que viveu - e nele ser compreendido - e não julgado à luz de novas orientações sócio-políticas de tempos novos que abjuraram os antigos, sem contudo, terem dado à sociedade a felicidade terrena que já no tempo antigo foi um fanal, tendo-se em conta, que é esse desiderato que todo o homem e a sociedade busca desde os tempos de antanho.

António Ferro foi um homem que andou em busca de encontrar no seu tempo em plena I República o melhor caminho para Portugal, tendo sido republicano e sidonista, e como homem dado às Letras, em 1919 redactor principal de "O Jornal" Órgão do Partido Republicano Conservador, jornalista de "O Século" e do "Diário de Lisboa", Director da revista "Ilustração Portuguesa" e repórter internacional do "Diário de Notícias".

Do seu labor literário em prosa e verso ficaram provas na II série da revista "Alma Nova" e na revista "Contemporânea", tendo publicado em livro de conferências, reportagens  contos "Teoria da Indiferença" (1920), o romance "Leviana" (1921) e a colectânea "Viagens à Volta das Ditaduras" (1927).

Lendo as quadras que António Ferro escreveu para o jornal "A Canção de Portugal" e acima reproduzidas em fac-símile, a sua leitura atenta dão-nos o retrato intelectual do homem que em 1916 andava em redor de si mesmo para encontrar o seu caminho e, se, se trata de um canção de amor, não deixa de ser notável quando ele diz com o pensamento em Portugal:

Portugal é uma canção
Toda feita em redondilhas.
Passa de avós para netos,
Passa de mães para filhas.

Portugal era assim.
Prouvera a Deus que assim fosse, ainda hoje, e deixasse de importar costumes que lhe estragam a identidade de um povo antigo que caldeou numa só raça todos os povos que por aqui passaram e no convívio que houve com ele fez sobressair a lusitanidade da sua origem.

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

A omissão: uma falta grave!

A gruta de Elias

A leitura que se segue pertence ao Cap. VI do Sermão da Primeira Dominga do Advento, pregado pelo Padre António Vieira no dia 27 de Novembro de 1650, na Capela Real e, desde o primeiro momento em que conheci este texto me interroguei por este pedaço de crítica ao profeta Elias que fora agraciado por Deus que lhe dera forças para poder lutar contra os sacerdotes de Baal, o deus as dez tribos nos tempos do rei Acab.

(...)
A omissão é o pecado que com mais facilidade se comete e com mais dificuldade se conhece; e o que facilmente se comete e dificultosamente se reconhece, raramente se emenda. A omissão é um pecado que se faz não fazendo; e pecado que nunca é má obra, e algumas vezes pode ser obra boa, ainda os muito escrupulosos vivem muito arriscados em este pecado. Estava o Profeta Elias em um deserto metido em uma cova, aparece-lhe Deus e diz-lhe: 

Quid hic agis, Elia? E bem Elias, vós aqui? — Aqui, Senhor! Pois aonde estou eu? Não estou metido em uma cova? Não estou retirado do Mundo? Não estou sepultado em vida? Quid hic agis?  
E que faço eu? Não me estou disciplinando, não estou jejuando, não estou contemplando e orando a Deus? — Assim era. 

Pois se Elias estava fazendo penitência em uma cova, como o repreende Deus e lho estranha tanto? Porque ainda que eram boas obras as que fazia, eram melhores as que deixava de fazer. 
O que fazia era devoção, o que deixava de fazer era obrigação. 

Tinha Deus feito a Elias profeta do povo de Israel, tinha-lhe dado ofício público; e estar Elias no deserto quando havia de andar na corte; estar metido em uma cova, quando havia de aparecer na praça; estar contemplando no Céu, quando havia de estar emendando a terra, era muito grande culpa. 

A razão é fácil, porque no que fazia Elias salvava a sua alma; no que deixava de fazer perdiam-se muitas. Não digo bem: no que fazia Elias, parecia que salvava a sua alma; no que deixava de fazer, perdia a sua e as dos outros: as dos outros, porque faltava à doutrina; a sua, porque faltava à obrigação. 
É muito bom exemplo este para a corte e para os ministros que tomam a ocupação por escusa da salvação. Dizem que não tratam de suas almas, porque senão podem retirar. 

Retirado estava Elias e perdia se; mandam-no vir para a corte para que se salve. 

Não deixe o ministro de fazer o que tem de obrigação, e pode ser que se salve melhor em um conselho, que em um deserto. Tome por disciplina a diligência, tome por cilício o zelo, tome por contempla,cão o cuidado e tome por abstinência o não tomar, e ele se salvará.Mas porque se perdem tantos? 

Os menos maus perdem-se pelo que fazem,que estes são os menos maus; os piores perdem-se pelo que deixam de fazer, que estes são os piores: por omissões, por negligências, por descuidos, por desatenções, por divertimentos, por vagares, por dilações, por eternidades. 

Eis aqui um pecado de que não fazem escrúpulo os ministros, e um pecado por que se perdem muitos. Mas percam-se eles embora, já que assim o querem; o mal é que se perdem a si e perdem a todos, mas de todos hão-de dar conta a Deus. Uma das cousas de que se devem acusar e fazer grande escrúpulo os ministros, é dos pecados do tempo. Porque fizeram no mês que vem o que se havia de fazer no passado; porque fizeram amanhã o que se havia de fazer hoje; porque fizeram depois,.o que se havia de fazer agora; porque fizeram logo, o que se havia de fazer já.
(...)

Elias, diz o texto bíblico do Livro dos Reis, estribado na sua sua crença em Deus parecia invencível contra o poder dos apaniguados de Baal, mas posto perante a sentença de morte de Jezabel tornou-se vulnerável e com medo de ser morto, foge e vai para o deserto e nesse seu desnorte nem se dá conta do anjo de Deus que lhe fornece o alimento.

Desanimado, quer morrer, até que, numa nova visita do anjo, desperta e recupera as forças perdidas no meio daquele deserto, onde havia séculos antes, havia passado o seu povo, tendo merecido a atenção de Deus que o mandou sair da sua gruta (1Rs 19, 11), o que aconteceu, mas a gruta não deixou de sair do seu pensamento, deixando-se ficar no seu isolamento.

O Padre António Vieira é neste ponto que condena Elias, ao dizer:

Tinha Deus feito a Elias profeta do povo de Israel, tinha-lhe dado ofício público; e estar Elias no deserto quando havia de andar na corte; estar metido em uma cova, quando havia de aparecer na praça; estar contemplando no Céu, quando havia de estar emendando a terra, era muito grande culpa. 

E continua assim: no que fazia Elias salvava a sua alma; no que deixava de fazer perdiam-se muitas. Não digo bem: no que fazia Elias, parecia que salvava a sua alma; no que deixava de fazer, perdia a sua e as dos outros: as dos outros, porque faltava à doutrina; a sua, porque faltava à obrigação. 

Eis, porque, sempre me interroguei pelo modo arguto que levou tão ilustre pregador da Palavra de Deus ao citar Elias, pretender chamar a nossa atenção para aquilo que todos devemos fazer e, sem deixar de orar a Deus, nunca deixarmos de cumprir no Mundo a obrigação que nos incumbe de, a par de exaltarmos a divindade pela nossa oração, podemos correr o risco, se não agirmos, faltar à doutrina de, com a força dela emendarmos os nossos semelhantes.

Razão, porque, a omissão que cometemos é uma falha grave que fica a pesar na consciência de cada um.

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Ler ou reler o Cap. 24 do Evangelho de S. Mateus


Evangelho de São Mateus, Capítulo 24

1.Ao sair do templo, os discípulos aproximaram-se de Jesus e fizeram-no apreciar as construções. 
2.Jesus, porém, respondeu-lhes: Vedes todos estes edifícios? Em verdade vos declaro: não ficará aqui pedra sobre pedra; tudo será destruído.
3.Indo ele assentar-se no monte das Oliveiras, achegaram-se os discípulos e, estando a sós com ele, perguntaram-lhe: Quando acontecerá isto? E qual será o sinal de tua volta e do fim do mundo? 
4.Respondeu-lhes Jesus: Cuidai que ninguém vos seduza.
5.Muitos virão em meu nome, dizendo: Sou eu o Cristo. E seduzirão a muitos.
6.Ouvireis falar de guerras e de rumores de guerra. Atenção: que isso não vos perturbe, porque é preciso que isso aconteça. Mas ainda não será o fim.
7.Levantar-se-á nação contra nação, reino contra reino, e haverá fome, peste e grandes desgraças em diversos lugares.
8.Tudo isto será apenas o início das dores.
9.Então sereis entregues aos tormentos, matar-vos-ão e sereis por minha causa objecto de ódio para todas as nações.
10.Muitos sucumbirão, trair-se-ão mutuamente e mutuamente se odiarão.
11.Levantar-se-ão muitos falsos profetas e seduzirão a muitos.
12.E, ante o progresso crescente da iniquidade, a caridade de muitos esfriará.
13.Entretanto, aquele que perseverar até o fim será salvo.
14.Este Evangelho do Reino será pregado pelo mundo inteiro para servir de testemunho a todas as nações, e então chegará o fim.
15.Quando virdes estabelecida no lugar santo a abominação da desolação que foi predita pelo profeta Daniel (9,27) - o leitor entenda bem –
16.então os habitantes da Judeia fujam para as montanhas.
17.Aquele que está no terraço da casa não desça para tomar o que está em sua casa.
18.E aquele que está no campo não volte para buscar suas vestimentas.
19.Ai das mulheres que estiverem grávidas ou amamentarem naqueles dias!
20.Rogai para que vossa fuga não seja no inverno, nem em dia de sábado;
21.porque então a tribulação será tão grande como nunca foi vista, desde o começo do mundo até o presente, nem jamais será.
22.Se aqueles dias não fossem abreviados, criatura alguma escaparia; mas por causa dos escolhidos, aqueles dias serão abreviados.
23.Então se alguém vos disser: Eis, aqui está o Cristo! Ou: Ei-lo acolá!, não creiais.
24.Porque se levantarão falsos cristos e falsos profetas, que farão milagres a ponto de seduzir, se isto fosse possível, até mesmo os escolhidos.
25.Eis que estais prevenidos.
26.Se, pois, vos disserem: Vinde, ele está no deserto, não saiais. Ou: Lá está ele em casa, não o creiais.
27.Porque, como o relâmpago parte do oriente e ilumina até o ocidente, assim será a volta do Filho do Homem.
28.Onde houver um cadáver, aí se ajuntarão os abutres.
29.Logo após estes dias de tribulação, o sol escurecerá, a lua não terá claridade, cairão do céu as estrelas e as potências dos céus serão abaladas.
30.Então aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem. Todas as tribos da terra baterão no peito e verão o Filho do Homem vir sobre as nuvens do céu cercado de glória e de majestade.
31.Ele enviará seus anjos com estridentes trombetas, e juntarão seus escolhidos dos quatro ventos, duma extremidade do céu à outra.
32.Compreendei isto pela comparação da figueira: quando seus ramos estão tenros e crescem as folhas, pressentis que o verão está próximo.
33.Do mesmo modo, quando virdes tudo isto, sabei que o Filho do Homem está próximo, à porta. 
34.Em verdade vos declaro: não passará esta geração antes que tudo isto aconteça.
35.O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão.
36.Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém o sabe, nem mesmo os anjos do céu, mas somente o Pai.
37.Assim como foi nos tempos de Noé, assim acontecerá na vinda do Filho do Homem.
38.Nos dias que precederam o dilúvio, comiam, bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca.
39.E os homens de nada sabiam, até o momento em que veio o dilúvio e os levou a todos. Assim será também na volta do Filho do Homem.
40.Dois homens estarão no campo: um será tomado, o outro será deixado.
41.Duas mulheres estarão moendo no mesmo moinho: uma será tomada a outra será deixada. 
42.Vigiai, pois, porque não sabeis a hora em que virá o Senhor.
43.Sabei que se o pai de família soubesse em que hora da noite viria o ladrão, vigiaria e não deixaria arrombar a sua casa.
44.Por isso, estai também vós preparados porque o Filho do Homem virá numa hora em que menos pensardes.
45.Quem é, pois, o servo fiel e prudente que o Senhor constituiu sobre os de sua família, para dar-lhes o alimento no momento oportuno?
46.Bem-aventurado aquele servo a quem seu senhor, na sua volta, encontrar procedendo assim! 
47.Em verdade vos digo: ele o estabelecerá sobre todos os seus bens.
48.Mas, se é um mau servo que imagina consigo:
49. Meu senhor tarda a vir, e se põe a bater em seus companheiros e a comer e a beber com os ébrios,
50.o senhor desse servo virá no dia em que ele não o espera e na hora em que ele não sabe,
51.e o despedirá e o mandará ao destino dos hipócritas; ali haverá choro e ranger de dentes." 


Este trecho do Evangelista é conhecido por "discurso escatológico" e, muito embora ele tenha como causa primeira a destruição de Jerusalém, há quem veja nele "o fim do Mundo".

Jesus acabara de sair do Tempo de Jerusalém - onde não mais entraria - e foi naquele momento que os Apóstolos lhe fizeram notar a solidez daquela construção, sem pressentirem o que iam ouvir: Vedes todos estes edifícios? Em verdade vos declaro: não ficará aqui pedra sobre pedra; tudo será destruído.

Aconteceu isto cerca de 40 anos depois.

A reposta de Jesus, teve resposta na destruição de Jerusalém que foi antecedida da aparição de pseudo-messias, a que não faltaram subversões políticas, guerras entre os povos, terramotos, epidemias e fome, com a religião que Ele pregou perseguida dentro e fora da Palestina e até com o aparecimento de apóstatas.

Eis porque, olhando o tempo actual, mesmo dentro da Igreja de Jesus, este trecho ouvido da boca de Jesus e relatado por S. Mateus devia interpelar todos os homens "de boa vontade" levando-os a pensar que o que mais custa não é tanto a algazarra dos maus, mas o silêncios dos bons.

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Sonhar... mas ter os pés no chão!


Dalai Lama

Se os seus sonhos estiverem nas nuvens, não se preocupe, pois estão no lugar certo; agora construa os alicerces.
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O que distingue o homem superiormente dotado de dons espiritualmente elevados do homem comum, é que ele vê no longe aquilo que o outro, muitas vezes, nem de perto enxerga, tendo até a arte de o fazer pensar naquilo que lhe diz, como acontece neste pensamento do monge tibetano, que traduz com toda a carga espiritual aquilo que convém fazer a todo o sonho que se tem.
  • Construir os alicerces!
Ou seja, a base, que sem ela bem firme qualquer ideia que sonhemos, se não tiver essa firmeza, seja de atitude ou de acção, pode ser um "ídolo de pés de barro" e desmoronar-se em pedaços, por vezes, sem possibilidades de serem concertados...

Eis, porque sonhar é preciso - já disse o poeta Sebastião da Gama: "Pelo sonho é que vamos", mas se isso é um modo de nos fazer viver a aventura da vida, como diz Dalai Lama, mesmo que ele esteja nas nuvens, está "no lugar certo"... reatando, apenas, como condição "sine qua non", que para qualquer sonho lhe construamos o modo dele poder ser realidade.

E para isso que Deus nos chamou à vida: 
Sonhar, sim, mas com cabeça!

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Se...


Com a decisão recente da Agência Standard & Poor's, cinco anos e meio depois Portugal subiu para o rating BBB, ou seja - fora do "lixo" - deixando de estar apenas dependente da Agência canadiana DBRS, o que constituiu, em termos da Economia, uma importante notícia para Portugal.

Isto levou-me a pensar deste modo:

Se António Costa fosse politicamente correcto - é, apenas, nesse aspecto que o critico - já teria dado os parabéns ao anterior governo que foi liderado por Passos Coelho que teve de cumprir um plano de correcção económica em grande parte criado pelo governo anterior liderado por José Sócrates, então, uma figura grada do Partido Socialista, o mesmo de onde provém ideologicamente, António Costa.

Mas já sabemos, como é.

Na política portuguesa, ao nível do executivo - "dobrar a espinha" - não é possível aos que a comandam, seja em que quadrante for, porque nos continuam a faltar sentimentos de galhardia, restando apenas, a luta pelo voto.

É assim desde a Monarquia Constitucional...

terça-feira, 12 de setembro de 2017

"Eu não sei porque razão"...



Depois, logo se vê!


Catarina Martins e Jerónimo de Sousa - que veio a seguir - vieram dizer, cada um a seu modo que a "geringonça" existiu num dado momento - para não deixar governar Passos Coelho que ganhou as eleições -  e que a sua repetição não era de prever, de acordo com a ilação que tirei e, possivelmente, todos os portugueses mais atentos a estas "cabriolices"...

Não nos esqueçamos que as eleições autárquicas são já no próximo dia 1 de Outubro e há que manter as hostes animadas e confortadas...

Depois, logo se vê!


segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Afinal, a austeridade... como se esperava, não acabou!

Capa do Jornal "Expresso" de 9 de Setembro de 2017

Afinal, como se esperava, a austeridade apenas acabou na linguagem rasteira de António Costa, que através dela e dos seus acidentais companheiros da esquerda radical conseguiram o poder, que era só isso que eles queriam!


Não esqueço que esta caricatura foi publicada em 17 de Janeiro de 1900, num tempo em que agonizava já a Monarquia Constitucional e que teria sido o tema de inspiração de Rafael Bordalo Pinheiro, mas que, - pesem embora tantos anos passados e as Repúblicas que se lhe seguiram - a política portuguesa por causa de uma cultura de respeito pelos eleitores e  que devia ter sido adquirida - continua a ter parecenças com este desenho famoso.

Peço desculpa se sou injusto, mas é o que penso.

Caramba! Quando é que temos juízo e respeitamos os portugueses e o seu voto... porque a maioria votou para dar a vitória a quem a ganhou com o poder das urnas e não com o poder construído nas sombras de um sol que foi embaciado pelas "artes e manhas" de quem quis derrotar, de viés, quem ganhou de frente... de olhos nos olhos!

"A Minha Filha" - Um poema de Guerra Junqueiro



A Minha Filha
(vendo-a dormir)

Que alma intacta e delicada!
Que argila pura e mimosa!
É a estrela d’alvorada
Dentro dum botão de rosa!

E, enquanto dormes tranquila
Vejo o divino esplendor
Da ala a sair da argila
Da estrela a sair da flor!

Anjos, no azul inocente,
Sobre o teu hálito leve
Desdobram candidamente,
Em pálio, as asas da neve…

E eu, urze má das encostas,
Eu sinto o dever sagrado
De te beijar – de mãos postas!
De te abençoar – ajoelhado!

Guerra Junqueiro
(in, Poesias Dispersas)


Este poema do celebrado Poeta que foi amado e odiado no seu tempo, mercê do seu temperamento polémico e cujas intervenções literárias e políticas estão em grande parte misturadas no fervor do tempo novo que fez emergir o golpe republicano que implantou a República Portuguesa, surge aqui, neste encantador Poema dedicado a sua filha - vendo-a dormir - com todo o esplendor paternal, mas não menos, com aquele esplendor literário que fez dele uma das maiores glórias da Literatura Portuguesa.

É o pai extremoso que num momento de remanso dentro do seu lar, surge candidamente rendido ao anjo que ele vê em sua filha - Que argila pura e mimosa! - dando a entender que Guerra Junqueiro estava centrado com a ideia bíblica que relata a formação do primeiro homem, como acontece com o mais atento dos mortais.

E, que se saiba - pese embora tudo quando escreveu ma "Velhice do Padre Eterno" em 1885 - esta afirmação eterna do "Padre Eterno" que ele veio a não respeitar num dado passo da sua vida literária, e de que veio, na velhice, a arrepender-se, naquele tempo, debruçado sobre o berço da filha, viu nela o divino esplendor, rendido àquela alma intacta e delicada, como o faria qualquer pai agradecido a Deus pela prenda recebida naquele pequeno corpo adormecido, e ante o qual o grande Poeta sentiu o dever sagrado de o beijar - de mãos postas - e de o abençoar - ajoelhado!.

É, por tudo isto, que eu que me confesso cristão católico, desde sempre admirei Guerra Junqueiro, por ter entendido a sua luta mental contra a Igreja do seu tempo, mal servida - com as excepções que sempre existem - por um clero afastado da doutrina evangélica que ele abjurou, muito embora - e esse foi o seu erro - ter misturado Deus, como se Deus tivesse culpa do erros clericais que ensombraram um grande espaço do século XIX.

Mas que fique de pé, neste Poema, a sua ideia deísta de um Deus Criador, onde não faltou a palavra - pálio - como se pode ler no último verso da penúltima quadra - e que na Ordem Litúrgica significa  nas procissões solenes um sinal de distinção e honra, servindo de cobertura sustentada por varas e sobre a qual passa pelas nas mãos do Sacerdote, o Santíssimo Sacramento.

De vez em quando leio este Poema de Guerra Junqueiro e ante os seus carinhosos versos ao sentir a minha comoção de pai e avô não posso deixar de render a minha homenagem sentida ao insigne Poeta, que foi fiel a si mesmo e ao tempo que lhe foi dado viver.

sábado, 9 de setembro de 2017

Palavras infelizes

Não estou de acordo com o Senhor Presidente da República que na sua recente visita a Andorra, participando no seu "Dia Nacional" podendo não ter respondido - e devendo.o ter feito estando em território estrangeiro - num dado lugar em que o passeio derivava para a direita a caminho do Santuário de Nossa Senhora de Meritxeli, Padroeira do Principado, em ar descontraído, disse, comentando o acidente natural da estrada:

"Agora viramos à direita, coisa que eu em Portugal já não faço há algum tempo", "De vez em quando faço, mas a direita não nota. Eu quando viro à direita em Portugal, a direita está distraída a bater na esquerda, não nota. Em vez de aproveitar não nota"
(in, Público de 8 de Setembro de 2017)

Palavras infelizes.
Nem tudo e pode desculpar ao Senhor Presidente da República!

Quem trabalha e mata a fome...