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quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

"Sem ovos não se fazem omoletes"!

in, "Diário de Notícias" de 8 de Fevereiro de 2018 (capa)
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Isto não é verdade!
O jornal "enganou-se", porquanto, o discurso oficial - e esse é que conta para o governo do  Partido Socialista - tudo corre no melhor dos mundos, mas pelos vistos a realidade amarga é que o emprego de qualidade garantida em todos os parâmetros sociais é uma ilusão que a máquina partidária do PS alimenta - e bem - mas para mal da realidade social porque a precaridade do emprego está à vista.

Parece que é mentira, mas é verdade: ao fim de dois anos de governação, tal como a temos e nos foi imposta - porque a maioria do povo não votou para que fosse assim - os contratos de emprego a prazo mantém~se nos 22%, ou seja, como este governo arranjado com o apoio da esquerda radical, não baixou com as suas políticas, como li, hoje-

Diz o povo - e ele sabe bem destas coisas "que sem ovos não se fazem omoletes", pelo que, ou os ovos utilizados neste cozinhado a várias mãos estão estragados, ou não estão... e está estragado de propósito o discurso oficial da baixa de um emprego - que é real - mas de tal modo precário que não dá, como devia, a segurança social de quem se vê sujeito a aceitar a sua precaridade.

Isto não é verdade...  dirá o Partido Socialista... mas é!
Infelizmente para os trabalhadores precários de Portugal, pelo que se lamenta o discurso "bonzinho" e enganador da realidade factual.

Uma lembrança de Soares de Passos


Soares de Passos (António Augusto) foi distinguido por Alexandre Herculano que numa carta que lhe dirigiu se expressa deste modo: "Na minha opinião, V. Sª, está destinado a ser o primeiro poeta lírico português deste século. Há nos seus poemas lampejos de génio, que o simples talento não pode produzir".

Soares de Passos foi considerado um seguidor a linha do Ultra-Romantismo que  tinha como fio de prumo literário, entre outros, o verso livre, a idealização do amor e da mulher, a saudade infantil e a consciência da sua própria solidão.

Tudo isto aconteceu com o poeta em cujas poesias há laivos da precaridade da sua abalada saúde a que a tuberculose não deu tréguas, tornando-se ele mesmo "prisioneiro" dentro de sua própria casa do Porto, onde nasceu e morreu, e na qual recebia o preito da amizade dos amigos - como Júlio Dinis - que lhe dedicou no seu livro de poesias o poema que aqui se publica em honra da amizade, esse sentimento nobre que não tem idade.



   A MORTE DO POETA
(À memória de A. A. Soares de Passos)

Calou-se a lira! E a criação nos coros
De menos uma voz aos céus revoa!
Na imensa harpa, em que o universo entoa
Seus cânticos, de menos uma corda!
Que foi? que nota falta às harmonias?
Que foi? que mão deixou quebrar a lira?
O poeta morreu, o canto expira,
Cessam seus hinos do sepulcro à borda!

Morreu o teu cantor, ó Firmamento!
Teu sacerdote ardente, ó poesia!
Ó Deus, ó Pátria, a última agonia
Gelou a voz que hosanas vos sagrara!
Crente inspirado, os brados do entusiasmo
Não lhe esfriou dos homens a indiferença,
E a venenosa taça da descrença
Dos generosos lábios arrojara!

O poeta morreu! E o Sol e os astros
Que ele cantou, e a abóbada celeste
De lutuosas trevas se não veste;
E tu, ó Pátria, que ele amava tanto,
Tu dormes inda esse gelado sono ?!
Não te acorda o seu último gemido?
Sente-lhe a morte, se não hás sentido
De animação e glória o eterno canto.

Mas não; os homens vêem pasmar o féretro,
Vêem do sepulcro alevantar-se a lousa,
E, olhando a nobre fronte que repousa,
— Quem é ? perguntam com cruel frieza.
— É um poeta, lhes respondem poucos.
Um poeta! palavra incompreensível!
Por ele a multidão passa insensível,
E a campa desampara com presteza.

E um poeta morreu! listas palavras
Nada vos dizem, povos, que as ouvistes?
Não as há mais solenes nem mais tristes.
Oh! nelas reflecti um só momento!
Não sabeis o que diz a morte do homem
Que se encaminha à campa que lhe ergueram
Seguido apenas dos que ainda veneram
O culto da poesia e pensamento?

Não ouvis esse dobre, que o lamenta?
É como a voz do século, que brada:
— «Chorai, ó multidões, que na cruzada
Da civilização vos alistastes,
Chorai, um dos soldados que hà caído,
Deus lhe dera a bandeira que vos guia,
O estandarte da idéia, a poesia;
Mas vós na heróica empresa o abandonastes!

«Lamenta, ó liberdade, o teu apóstolo!
Amor, o coração que te entendia!
Tu, Pátria, o filho que melhor podia
Entre as nações da terra engrandecer-te!
Religião, ai! chora o sacerdote,
Que, entoando no templo os sacros hinos,
Chamara os povos aos altares divinos
E cultos sem iguais pudera erguer-te!»

E tu, 0 mundo, o vês quase indiferente!
Curva a cabeça ante essa campa aberta,
Ajoelha-te, e a fronte descoberta,
Venera as cinzas que deixou na Terra;
Os restos são da mais violenta chama,
Que o fogo do Céu no mundo ateia;
A chama ardente de inspirada idéia,
Fogo que a mente do poeta encerra.

Verte, oh! verte uma lágrima na tumba;
Uma lágrima só. Outros desejam
Soberbos mausoléus onde se vejam
Fulgir os nomes seus em letras d'ouro;
Ele não. Flores e lágrimas, eis tudo!
Eis o diadema a que o poeta aspira;
Porque lho negas? Que paixão te inspirar
Delas fizeste, ó mundo, o teu tesouro?

Ai, não; umas e outras as desprezas:
As flores procuram as campinas,
Porque a turba, ao passar, calca as boninas,
E o sopro das cidades as murchava.
As lágrimas, as flores do sentimento,
Não as diviso já nos olhos do homem,
Ou das paixões as lavas as consomem,
Ou morto é o sentimento que as gerava.

Fazes bem em passar, mundo, se ignoras
Desta cena a solene majestade,
Impassível ficar era impiedade.
Parte, vai; a indiferença era um insulto.
Oh! mil vezes mais grato o isolamento...
Mas não, o isolamento não existe:
Junto da campa se reúne triste
Longo cortejo de lutuoso vulto.

Ei-los; do vasto templo se avizinham,
Trazem no rosto a dor, que os consome.
Esses veneram do poeta o nome,
Do féretro ao passar, curvam a fronte,
Respeitai esse pranto, que é sentido;
Longe, indiferentes, que o lugar é santo!
Os que entenderam seu sublime canto,
Saúdam-no ao sumir-se no horizonte.

Silêncio! A Pátria do seu sono acorda!
Sono talvez, que precursor da morte,
Do filho só lamenta a triste sorte,
3eme saudosa com magoado acento!
Ai, nos seus dias de passada glória,
De mãe o desespero a voz lhe erguera,
E, em seu clamor, às praias estendera
Das nações mais longínquas o alto alento.

Mas hoje, já de forças exaurida,
É fraca a sua voz ante essa tumba;
Do peito vem, porém já não retumba
Nos ecos das nações mais poderosas.
Apenas sua irmã, a mais vizinha,
Que quase a mesma linguagem fala,
Compassiva parece lamentá-la,
Ouvindo suas queixas dolorosas.

Poeta, dorme pois: a tua campa
Não ficará sem lágrimas nem flores,
As liras soltam fúnebres clamores
E os ventos reproduzem suas queixas.
Dorme, dorme, poeta, que teu sono
A turba inquietaria com seus passos;
Mas qual o infante nos maternos braços,
Dorme ao som dessas lânguidas endeixas.

Dorme, dorme em sossego... mas, silêncio!
Para que solto a voz? Cala-te ó lira!
Se o gênio da poesia não te inspira,
Para que o seu cultor lamentas triste?
Diante da mudez deste sepulcro
Teus ais de dor, ó coração, suspende;
Vê em silêncio o Sol, que ao ocaso pende
Como em silêncio no zénite o viste.

Março de 1860
Júlio Dinis in, Poesias


segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

"A expulsão de Deus"


Não resisti e publico este documento tal como recebi.

Pela sua oportunidade, no momento enviesado que atravessa  a Europa e no caso comentado por Anne Graham, de igual modo, a América do Norte - ambos os Continentes descristianizados - ele devia ser um motivo de reflexão onde a consciência  de muitos de nós - a começar por mim - devia mergulhar profundamente sobre a atitude que, não raro, aqui e ali, nos temos dado conta, sem pensar que a vida não é só o usufruto de bens materiais, alguns supérfluos, mas fazê-los acompanhar dos bens espirituais por demais arredios das nossas inquietações quotidianas.

A expulsão de Deus

A filha de Billy Graham (renomado pastor norte-americano) estava sendo entrevistada no Early Show e a apresentadora Jane Clayson perguntou a ela:

- Como é que DEUS teria permitido algo horroroso assim acontecer no dia 11 de setembro?

Anne Graham deu uma resposta extremamente profunda e sábia. Ela disse:

- Eu creio que DEUS ficou profundamente triste com o que aconteceu, tanto quanto nós. Por muitos anos nós temos dito para DEUS não interferir em nossas escolhas, sair do nosso governo e sair de nossas vidas. Sendo um cavalheiro como DEUS é, eu creio que Ele calmamente nos deixou.

Como poderemos esperar que DEUS nos dê a Sua bênção e Sua proteção se nós exigimos que Ele não se envolva mais conosco? À vista dos acontecimentos recentes, ataque dos terroristas, tiroteio nas escolas, etc. Eu creio que tudo começou desde que Madeline Murray O'Hare , se queixou de que era impróprio se fazer oração nas escolas americanas como se fazia tradicionalmente, e nós concordamos com a sua opinião. 

Depois disso, alguém disse que seria melhor também não ler mais a Bíblia nas escolas... A Bíblia que nos ensina que não devemos matar, não devemos roubar, e devemos amar o nosso próximo como a nós próprios. E nós concordamos.

Logo depois, o Dr. Benjamin Spock disse que não deveríamos bater em nossos filhos quando eles se comportassem mal, porque suas personalidades em formação ficariam distorcidas e poderíamos prejudicar sua auto-estima (O filho do Dr. Spock cometeu suicídio).
E nós dissemos: “um perito nesse assunto deve saber o que está falando”, e então concordamos com ele.

Depois alguém disse que os professores e os diretores das escolas não deveriam disciplinar os nossos filhos quando eles se comportassem mal.
Os administradores escolares então decidiram que nenhum professor em suas escolas deveria tocar em um aluno quando se comportasse mal, porque não queriam publicidade negativa, e não queriam ser processados. (Há uma grande diferença entre disciplinar e tocar, bater, dar socos, humilhar e chutar, etc.) E nós concordamos com tudo.

Aí alguém sugeriu que deveríamos deixar que nossas filhas fizessem aborto, se elas assim o quisessem, e que nem precisariam contar aos pais.
E nós aceitamos essa sugestão sem ao menos questioná-la.

Em seguida algum membro da mesa administrativa escolar muito sabido disse que, como rapazes serão sempre rapazes, e que como homens iriam acabar fazendo o inevitável, que então deveríamos dar aos nossos filhos tantas camisinhas quantas eles quisessem, para que eles pudessem se divertir à vontade, e que nem precisaríamos dizer aos seus pais que eles as tivessem obtido na escola. E nós dissemos, “está bem”.

Depois alguns dos nossos oficiais eleitos mais importantes disseram que não teria importância alguma o que nós fizéssemos em nossa privacidade, desde que estivéssemos cumprindo com os nossos deveres.
Concordando com eles, dissemos que para nós não faria qualquer diferença o que uma pessoa fizesse em particular, incluindo o nosso presidente da República, desde que o nosso emprego fosse mantido e a nossa economia ficasse equilibrada.

Então alguém sugeriu que imprimíssemos revistas com fotografias de mulheres nuas, e disséssemos que isto é uma coisa sadia, e uma apreciação natural da beleza do corpo feminino. E nós também concordamos.

Depois uma outra pessoa levou isto a um passo mais adiante e publicou fotos de crianças nuas e foi mais além ainda, colocando-as à disposição na Internet. E nós dissemos, “está bem, isto é democracia, e eles têm direito de ter a liberdade de se expressar e fazer isso”.

A indústria de entretenimento então disse: “Vamos fazer shows de TV e filmes que promovam profanação, violência e sexo ilícito. Vamos gravar música que estimule o estupro, drogas, assassínio, suicídio e temas satânicos.” E nós dissemos: “Isto é apenas diversão, e não produz qualquer efeito prejudicial.
Ninguém leva isso a sério mesmo, então que façam isso!”

Agora nós estamos nos perguntando por que nossos filhos não têm consciência, e por que não sabem distinguir entre o bem e o mal, o certo e o errado, por que não lhes incomoda matar pessoas estranhas ou seus próprios colegas de classe ou a si próprios... Provavelmente, se nós analisarmos tudo isto seriamente, iremos facilmente compreender que nós colhemos exatamente aquilo que semeamos!

Se uma menina escrevesse um bilhetinho para DEUS, dizendo:
”Senhor, por que não salvaste aquela criança na escola?”
A resposta Dele seria:
”Querida criança, não me deixam entrar nas escolas! Do Seu DEUS”.

É triste como as pessoas simplesmente culpam DEUS e não entendem por que o mundo está indo a passos largos para o inferno. É triste como cremos em tudo que os jornais e a TV dizem, mas duvidamos do que a Bíblia nos diz.
É triste como todo o mundo quer ir para o céu, desde que não precise crer, nem pensar ou dizer qualquer coisa que a Bíblia ensina.

É triste como alguém diz: “Eu creio em DEUS”, mas ainda assim segue a Satanás, que por sinal, também “crê” em DEUS. É engraçado como somos rápidos para julgar mas não queremos ser julgados! Como podemos enviar centenas de piadas pelo email, e elas se espalham como fogo, mas quando tentamos enviar algum email a respeito de DEUS, as pessoas têm medo de compartilhar e reenviá-lo a outros!...


Fonte cleofas.com.br

domingo, 4 de fevereiro de 2018

V Domingo do Tempo Comum - Ano B - 3 de Fevereiro de 2018


Evangelho segundo S. Marcos 1, 29-39

Assim que saíram da sinagoga, dirigiram-se com Tiago e João à casa de Simão e André. A sogra de Simão estava de cama, com febre; e sem tardar, falaram-lhe a respeito dela. Aproximando-se ele, tomou-a pela mão e levantou-a; imediatamente a febre a deixou e ela pôs-se a servi-los. À tarde, depois do pôr-do-sol, levaram-lhe todos os enfermos e possessos do demónio. Toda a cidade estava reunida diante da porta. Ele curou muitos que estavam oprimidos de diversas doenças, e expulsou muitos demónios. Não lhes permitia falar, porque o conheciam. De manhã, tendo-se levantado muito antes do amanhecer, ele saiu e foi para um lugar deserto, e ali se pôs em oração. Simão e os seus companheiros saíram a procurá-lo. Encontraram-no e disseram-lhe: "Todos te procuram." E ele respondeu-lhes: "Vamos às aldeias vizinhas, para que eu pregue também lá, pois, para isso é que vim." Ele retirou-se dali, pregando em todas as sinagogas e por toda a Galileia, e expulsando os demónios.


A um leigo como eu, a Igreja cristã romana de que sou um obscuro membro, pede-me que no exercício da minha liberdade religiosa e civil - Jesus Cristo veio ao Mundo para isto mesmo - depois de ler e meditar na Palavra deste Domingo que nos chega da pena inspirada de S. Marcos, o conceituado discípulo do Príncipe dos Apóstolos que a pedido dos primeiros cristãos de Roma lhes deixou - e a nós como herança - tudo o que ouvira da boca de S. Pedro sobre a doutrina evangélica e o ensino civil da acção de Jesus Cristo.

É nisto que consiste a leitura deste Domingo a partir do Evangelho que tem o seu nome.

Que dizer sobre esta leitura?
Que ela aponta para os seguintes caminhos:
  • Que Jesus Cristo fazia uma gestão equilibrada do tempo entre a pregação e a acção, como aconteceu logo à saída da sinagoga, onde havia rezado.
  • Que estando em casa de Simão e tendo este a sogra adoentada aproximou-se do seu leito e estendeu-lhe a mão com os benefícios sadios que esta atitude causou na doente.
  • Que tendo-se ausentado para se unir a Deus em oração, ouviu da boca dos seus seguidores, quando o encontraram : "Todos Te procuram".
E é a partir daqui que me é dado reflectir neste aspecto de tal modo importante que é para mim, neste Domingo, a grande lição a reter:
  • A quem estendo a minha mão para o aliviar da doença dos seus cansaços, seja da marginalização que sente, seja da falta de compreensão de uma sociedade que se ausenta, escondida na passividade da sua conduta humana?
  • Quantos pela benignidade humana do meu porte social onde não falta a linha espiritual que orienta a minha vida me têm procurado?

sábado, 3 de fevereiro de 2018

"Cautela e caldos de galinha"...



Um caso arrumado é o da polémica que envolveu o Ministro das Finanças de Portugal, Mário Centeno e o Ministério Público que o investigou, a propósito dos bilhetes que ele pediu e lhe foram dados sem qualquer retribuição pecuniária ao Sport Lisboa e Benfica para aquele governante assistir a um jogo de futebol entre este clube e o Futebol Clube do Porto.

Um caso arrumado do ponto de vista formal e jurídico.
E ainda bem - digamos - para sossego de uma sociedade precisada de repouso de casos, porquanto é preciso e urgente olhar o futuro com confiança e com o fito posto nos nossos filhos e netos.
Fica, no entanto, uma lição: seja um governante ou outro alguém de quem dependa um eventual julgamento no exercício das suas funções não deve sujeitar-se a arcar com o fardo incómodo de um favor recebido, tendo-se em conta o mundo que temos.

É por essa razão que faltou argúcia a quem não aquilatou na devida conta a celeuma que se veio a levantar, porque lhe faltou, também, a lembrança do velho rifão popular que avisadamente nos diz: "cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém"!


domingo, 28 de janeiro de 2018

"Os meus olhos choram sempre"...



Lutgarda de Caires foi uma poetisa algarvia a quem cabe a honra de ter sido a fundadora do actual "Natal dos Hospitais", então chamado "Natal das Crianças dos Hospitais".

Deu a esta quadra todo o sentido da palavra bem portuguesa - SAUDADE - enquanto descrição de uma mistura de sentimentos, onde a perda irremediável, a falta ou a distância do ente querido é geradora de um amor que não morre na solidão de quem o sente.
A poetisa perdeu uma filha de tenra idade e tudo leva a crer que esta quadra é um reflexo sentido da sua dor de mãe.

Pela sua força etimológica a palavra saudade ecoa em Portugal do Minho ao Algarve e o seu eco chega distinto às ilhas atlânticas, e é de tal modo um eco vivo que nos tem chegado como herança das gerações passadas e havemos de deixar às futuras.

Não cabe aqui falar detalhadamente da mulher ilustre de Vila Real de Santo António, mas cabe dizer que ela foi uma intrépida lutadora social, no tempo amargo que Portugal viveu antes e depois da implantação da República, pelo que conhecer a sua obra literária e social é um dever.

sábado, 27 de janeiro de 2018

"Bate a fome à porta deles"...



"O nosso olhar é espelho"...



Dois sonetos de Virgínia Vitorino


Renúncia

Fui nova, mas fui triste... Só eu sei
Como passou por mim a mocidade...
Cantar era o dever da minha idade,
Devia ter cantado e não cantei...

Fui bela... Fui amada e desprezei...
Não quis beber o filtro da ansiedade.
Amar era o destino, a claridade...
Devia ter amado e não amei...

Ai de mim!... Nem saudades, nem desejos...
Nem cinzas mortas... Nem calor de beijos...
Eu nada soube, eu nada quis prender...

E o que me resta?! Uma amargura infinda...
Ver que é, para morrer, tão cedo ainda...
E que é tão tarde já, para viver!...




Eu que cheguei a ter essa alegria

Eu que cheguei a ter essa alegria
de junto ao meu possuir teu coração!
Eu que julgava eterna a duração
do voluptuoso amor que nos unia,

sou ‒  apagada a última ilusão,
morto o deslumbramento em que vivia,
—  um cego que ao lembrar a luz do dia
sente mais negra ainda a escuridão.

Tu me deste a ventura mais perfeita,
perdi-a e dei-te a chama insatisfeita
dessa imensa paixão com que te quis…

Hoje, o que eu sinto, inútil, revoltada,
não é mágoa de ser desgraçada,
—  é pena de  ter sido tão feliz.
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Ante estes dois sonetos dessa ilustre filha de Alcobaça que a Literatura Portuguesa conhece pelo nome de  Virgínia Vitorino, apetece fechar os olhos, reflectir na sua mensagem e render silenciosamente uma homenagem sentida à poetisa e dramaturga, agraciada pelo Governo português em 1929 e 1932 e pelo Governo espanhol em 1930 e, hoje, indevidamente esquecida por um Poder que não preza a Cultura nem o nome dos que lhe deram a Verdade do seu nome.

Deus que é bom e conhece todas as criaturas que passaram e souberam escrever o seu Nome, tenha no assento etéreo e no lugar devido a chama da sua alma que foi um lume que se apagou no tempo que lhe foi dado viver, mas cujo calor continua a viver nas suas poesias, como estas que são um marco existencial que continua a marcar caminhos.

Uma lembrança de Bulhão Pato e da sua "Paquita"

Fac-símile da caricatura de Bulhão Pato 
in, do Jornal "Azulejos" de 10 de Fevereiro de 1908
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Bulhão Pato, como ficou conhecido, de baptismo teve os nomes de Raimundo António seguido daqueles apelidos ifentificatórios na História da Literatura Portuguesa, nasceu em Bilbau (Espanha) filho de um fidalgo português em 1829, sendo menino quando rebentou a primeira "guerra carlista" em 1833, era então um jovem quando esta terminou (1840) mas já então a residir em Lisboa onde chegou em  1837, mas marcado, embora distante, no tempo da sua adolescência pela segunda guerra entre os mesmos contendores - absolutistas contra liberais - (1846-1849).

Nas suas memórias diz o Poeta que, «Nessa época a cena política cheirava a pólvora e a sangue! O ódio entre carlistas e cristinos não era menor do que o ódio entre miguelistas e constitucionais" que a sua adolescência viveu em Portugal, mas essas lutas fratricidas marcaram indelevelmente a sua sensibilidade o que o levou em toda a sua obra a ter um repúdio pela violência pela ambição desmedida e prepotência dos mais fortes, contrapondo-lhe a sua ideia de justiça derivada da doutrina cristã.

Foi, por isso que Bulhão Pato nunca se envolveu na acção político-partidária - embora tivesse apadrinhado a "Revolução de Maria da Fonte", travando a sua luta de pena em punho para se alcandorar nos corações dos que o apoiavam, reconhecendo-o como um modelo de virtudes, não tardando a ser requisitado pela imprensa da época, aparecendo o seu famoso poema "Paquita" - começado a ser escrito na Ajuda, em casa de Alexandre Herculano, um seu indefectível amigo ao longo da vida - na Revista Peninsular, onde se desenrolam as aventuras e desventuras dessa filha da Andaluzia e de seu primo Pepe.

O Canto I da Paquita começa com esta sextilha:



E termina esta Canto com este poema dedicado - A JÚLIA - no tempo em que Pepe rumara a Salamanca e uma notícia de jornal informa Paquita daqueles versos a Júlia, onde começa a desenrolar-se o drama.

    A JÚLIA

Naquela deserta ermida,
Que alveja na serrania,
Deu sinal, Júlia querida,
O sino da Ave-Maria.

Este som tão conhecido
Da nossa inocente infância,
Como agora vem sentido
Trazer-me viva à lembrança,
Toda essa doce fragrância
Daquele existir d'então!

Ai! lembrança não, saudade!
Saudade Júlia, tão funda...
Mas tão grata, que me inunda
De ventura o coração.

Espera... se neste instante
Mandasse à terra o Senhor,
Anjo de meigo semblante,
E aos dias daquela idade
Nos tornasse o seu amor...
Oh! responde-me, querida,
Se quanto depois na vida
De belo nos há passado,
Não devera ser trocado
Por esses dias em flor?!

Que lá vão! lembras-te ainda?
Tu risonha doidejavas,
Por entre as moitas de flores
Como elas fragrante e linda.
Quando o som pausado e lento
D'Ave-Maria escutavas,
Então naquele momento
Aos pés da Cruz te prostravas!...

Que fronte de anjo era a tua
Vista ao reflexo amoroso
Dos frouxos raios da lua!
Uma tarde, ao pôr do sol,
No recosto pedregoso
Do monte nos encontramos;
Lembras-te! essa hora bateu,
Porém nós mal a escutamos!
Os olhos, tu perturbada,
Baixavas, e no semblante
Não sei que luz te brilhava,
Eu sei que naquele instante
O prazer me enlouqueceu.

Oh! fatal loucura aquela!
Tinha-me ali tão perdido,
Que, sem mais ver, delirante
Nos braços te arrebatei.

Não sei por onde vagava,
Nem quanto, nem como andei;
Só me lembra que a ventura
Ali real me falava,
E que aos incertos lampejos
Das estrelas desmaiadas,
Imprimi ardentes beijos
Nas tuas faces rosadas!

Foi breve aquele delírio;
Ao menos breve o julguei;
E quando, outra vez à vida
De sobressalto voltei,
Desbotada como um lírio
Pelos vendavais batido,
Nos meus braços te encontrei!

                                                     
No Poema, Pepe, recebe desde a infância o amor puro de Paquita e, no mesmo, este herói masculino ora é envolvido em affaires amorosos, ora é apresentado a cumprir o papel de soldado a que junta a manifestação das suas paixões violentas, tecendo Bulhão Pato a sua ternura poética na beleza e fragilidade de Paquita, a heroína romântica. lembrando-se do beijo da despedida daquela separação forçada que a força para o caminho ascético que o Poema narrativo em sextilhas decassilábicas vai desfiando nos seus dezasseis cantos onde a heroína só comparece com assiduidade nos três primeiros, no sétimo, décimo primeiro e no décimo sexto como vaga lembrança na memória de Pepe.

Como nota final, aponta-se que tendo sido Bulhão Pato um homem adepto da não violência política de que foi testemunha na sua primeira idade e nos tempos da sua juventude, como já se disse, neste aspecto relacional dos dois sexos não pode fugir a ser testemunha do seu tempo, da fragilidade feminina ante o despotismo amoroso do homem pelo que o livro PAQUITA sendo uma narração fiel da época final do século XIX, só por isso merece a pena lembrá-o.

A mudança de atitudes surgidas no século seguinte de maior respeito pela mulher foi um avanço civilizacional, porque a mulher superior ao homem em muitos aspectos da interioridade humana - sendo como é, a fonte da vida - sofreu por demais ao longo dos tempos a arrogância masculina que lhe advinha da sua força física mas sempre lhe faltou no acompanhamento da sua força mental.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

"Senhora" - Um poema de amor espiritualizado


Fac-símile do poema publicado pelo Jornal "Azulejos" de 4 de Novembro de 1907
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Este poema, cujo autor não deixou - que eu conheça o seu nome no meio literário nacional do século XX - é, contudo, um madrigal na verdadeira acepção do termo, pelo sentimento lisonjeiro, terno e amoroso em que o Poeta exprime de um modo veemente o seu amor a uma trança negra ou nega trança da feliz SENHORA que recebeu a graça de saber que um terno amor de poeta / não é um simples amor...

Perguntarão, possivelmente, os que lerem estes conceitos, da razão que me levou a fazê-los e eu responderei que a tanto me senti obrigado pela beleza rítmica da composição, filha dilecta de um tempo em que o modernismo se fez sentir em  Portugal através de Fernando Pessoa e do seu heterónimo Alberto Caeiro, onde o bucolismo influenciou gerações, como a do autor deste poema SENHORA, que é um hino de amor todo doirade sol, para nunca ser - como ele afirma - uma c´rôa d´abrolhos / O amor dos meus afectos.

Porque o amor simples, terno e dedicado assim devia continuara a ser, ao invés de um sentimento do tempo que passa - a que se dá o mesmo nome de amor - mas é, desvirtuado nas suas raízes mais belas pela ligeireza como ele se deixa prender às armadilhas de um mundo que perdeu algo que tem a beleza do amor puro em que se afirma,  como diz Arthur C. d'Oliveira: Embora me queirais muito / Quero-vos mais que me qu'ereis.


É, pois, neste sentimento nobre que se dispõe a dar mais que a receber que a Humanidade, um dia, tem de voltar a acreditar e viver assim, em conformidade com este conceito espiritual, hoje desprezado em tantas mentes