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quarta-feira, 1 de agosto de 2018

"DESTINO" . Um poema de Almeida Garrett


Uma célebre foto de Almeida Garrett
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Há quem acredite que o destino é uma força exterior à vontade da pessoa e que lhe determina, como um pêndulo que fosse, todos os acontecimentos da vida.

Não é nisto em que consiste a acepção do cristianismo, porque nele, o destino é gerido pela vontade de Deus que pela sua acção sobrenatural sobre o indivíduo controla e determina os acontecimentos que vão ocorrer ao longo de toda a sua vida.

Mas isto, muito embora se prenda na esfera da sobrenaturalidade da vida humana não obsta que, sendo o destino uma proposição que olha para o futuro, haja quem - os que costumam dizer "que são donos do seu destino" - se deixem cair em práticas esotéricas de que são exemplo, o "tarot" a "horoscopia" e a "numerologia", todas elas práticas emergentes de um falso conceito da vida divina que rege todas as criaturas e cujo destino obedece, apenas à vontade suprema do Ser incognocível que nunca veremos, mas é na sua essência transcendente e regente de todos os seres plasmados com o sopro da vida humana que Ele lhes deu.

Leia-se atentamente a poesia DESTINO do grande Poeta Almeida Garrett que viveu dentro do destino da vida que soube honrar pela imaterialidade que a animou - e ele assim a sentiu e assim a viveu - e lhe deu asas para ser com a assunção dessa Verdade deísta um dos vultos maiores da Língua Portuguesa.


      DESTINO

                                                  Quem disse à estrela o caminho
Que ela há-de seguir no céu?
A fabricar o seu ninho
Como é que a ave aprendeu?
Quem diz à planta «Florece!»
E ao mudo verme que tece
Sua mortalha de seda
Os fios quem lhos enreda?

Ensinou alguém à abelha
Que no prado anda a zumbir
Se à flor branca ou à vermelha
O seu mel há-de ir pedir?
Que eras tu meu ser, querida,
Teus olhos a minha vida,
Teu amor todo o meu bem...

Ai!, não mo disse ninguém.
Como a abelha corre ao prado,
Como no céu gira a estrela,
Como a todo o ente o seu fado
Por instinto se revela,
Eu no teu seio divino.
Vim cumprir o meu destino...
Vim, que em ti só sei viver,
Só por ti posso morrer.

                                                         in, "Folhas Caídas"

(Quem disse à rosa para abrir as suas pétalas?"

Esta poesia de Almeida Garrett estruturalmente fixada em três estrofes de oito versos, de rima rica nas suas sete sílabas métricas apresenta as interrogações do Poeta sobre quem ensina os seres da Natureza a desempenharem o que lhes foi confiado seguindo magistralmente o seu caminho até a um ponto em que o humano entra em cena, também para cumprir o seu papel.

O sujeito poético num dado tempo e momento concluíu que não recebeu de outro sujeito humano a ordem de amar, por ter percebido que no amor dedicado à sua amada ir-se-ia cumprir o seu destino e, como a abelha percorre os prados em busca de sugar o mel das flores, ou como as estrelas, ele, como todos os seres não humanos cumprem o seu destino e para que tal acontecesse só lhe restava - cognitivamente, atendendo à sua Natureza superior - cumprir o seu, a ponto de se prestar a morrer por amor da sua amada, pessoa tão importante que era essencial à sua própria sobrevivência.

E é na personificação, dando "vida" aos animais, às plantas e às estrelas, traçando-lhes o seu destino, que ele faz a comparação de si mesmo com todos os elementos da Natureza, sujeitos a cumprir, cada um, a seu modo os seus destinos.

Ou seja, Almeida Garrett comportou-se como um ser sujeito a Leis que lhe escapavam, por sentir que o seu destino não era obra para ser gerida por si mesmo mas obedecia a uma Lei superior que lhe comandava os actos.

E assim é, com todos os mortais.

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