O dia 10 de Junho no tempo do Estado Novo era conhecido como o "Dia da Raça", lembrando o insigne Poeta Luís de Camões que uma Pátria abandalhada deixou morrer a pedir esmola àquele que foi pela sua pena Ilustre o celebrado autor de "Os Lusíadas", o Livro maior dos feitos da raça portuguesa.
Depois da Revolução de 25 de Abril de 1974. o "Dia da Raça" foi substituído pelo "Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas", assinalando a morte do Poeta em 1580 - ano em que Portugal perdeu a independência a favor do reinado filipino da nossa vizinha Espanha - como se o Poeta da Raça pelo poder da morte não quisesse que a sua vida fosse para além daquela data funesta.
Lembrar Luís de Camões, no Dia que a Pátria lhe dedica é um dever nacional.
Razão mais que suficiente para lhe dedicar esta lembrança singela de um português que não viu de modo algum meritório ter-se retirado o título "Dia da Raça", porquanto, bem merecia ter continuado a existir no novo título agora dado ao dia 10 de Junho, porque em vez de "Dia de Portugal" não vinha nenhum mal ao Mundo se se lhe chamasse "Dia da Raça, de Camões e das Comunidades Portuguesas", porque só o poder da "Raça" deste Povo que se fundiu numa "Raça" apurada do velho Luso é que tornou possível o Poema Épico de Luís de Camões.
Primeiro retrato de Luís de Camões ao natural. Deve-se a Fernando Gomes
Concílio dos Deuses - Canto I . estrofe 33
Ilustração de Desenne para Os Lusíadas - edição de Morgado de Mateus, Paris, 1817
Luís de Camões nas estofes 20 a 41 descreve o Concílio dos Deuses, no Olimpo e apresenta Vénus com o seu voto de favor aos portugueses
33 - ( Vênus, Favorável aos Portugueses )
Sustentava contra ele Vênus bela,
Afeiçoada à gente Lusitana,
Por quantas qualidades via nela
Da antiga tão amada sua Romana;
Nos fortes corações, na grande estrela,
Que mostraram na terra Tingitana,
E na língua, na qual quando
imagina,
Com pouca corrupção crê que é a
Latina.
Visita do rei de Melinde a Vasco da Gama - Canto II - estrofe 110
Ilustração de Fragonard para Os Lusíadas - edição do Morgado de Mateus, Paris, 1817
Na estrofe 111 Luís de Camões refere assim a visita a visita do rei de Melinde. hoje uma cidade do Quénia na costa do Índico situada a norte de Mombaça.
111 - ( Continuação da fala
do Rei de Melinde ao Gama )
"E não menos co'o tempo se
parece
O desejo de ouvir-te o que
contares;
Que quem há, que por fama não
conhece
As obras Portuguesas singulares?
Não tanto desviado resplandece
De nós o claro Sol, para julgares
Que os Melindanos têm tão rudo
peito,
Que não estimem muito um grande
feito.
Sonho de D. Manuel I, no qual lhe aparecem os rios Indo e Ganges
Canto IV - estrofes 73 e 74
Ilustração de Fragonard para Os Lusíadas, edição do Morgado de Mateus, Paris, 1817
73 - ( Fala do Ganges a D. Manoel )
"Este, que era o mais grave na
pessoa,
Destarte para o Rei de longe
brada:
— "Ó tu, a cujos reinos e
coroa
Grande parte do mundo está
guardada,
Nós outros, cuja fama tanto voa,
Cuja cerviz bem nunca foi domada,
Te avisamos que é tempo que já
mandes
A receber de nós tributos grandes.
74 - ( Profecias )
— "Eu sou o ilustre Ganges, que na
terra
Celeste tenho o berço verdadeiro;
Estoutro é o Indo Rei que, nesta
serra
Que vês, seu nascimento tem
primeiro.
Custar-te-emos contudo dura
guerra;
Mas insistindo tu, por derradeiro,
Com não vistas vitórias, sem
receio,
A quantas gentes vês, porás o
freio."
O Gigante Adamastor - Canto V, estrofes 49 e 50
Vasco da Gama conclui o relato da viagem até Melinde, circunstanciado a passagem da Cabo das Tormentas, rumo a norte. Sofala. Rio dos Bons sinais. através do conjunto de estrofe 61 a 91
Ilustração de Fragonard para Os Lusíadas, edição do Morgado de Mateus, Paris, 1817
49 - ( Adamastor narra ao Gama
sua vida )
"Mais ia por diante o monstro
horrendo
Dizendo nossos fados, quando
alçado
Lhe disse eu: — Quem és tu? que esse
estupendo
Corpo certo me tem maravilhado.—
A boca e os olhos negros
retorcendo,
E dando um espantoso e grande
brado,
Me respondeu, com voz pesada e
amara,
Como quem da pergunta lhe pesara:
50
— "Eu sou aquele oculto e grande
Cabo,
A quem chamais vós outros
Tormentório,
Que nunca a Ptolomeu, Pompônio,
Estrabo,
Plínio, e quantos passaram, fui
notório.
Aqui toda a Africana costa acabo
Neste meu nunca visto Promontório,
Que para o Pólo Antarctico se
estende,
A quem vossa ousadia tanto ofende.
Vénus abranda a fúria dos ventos - Canto VI
(conjunto de estrofes 85 a 91)
Ilustração de Fragonard para Os Lusíadas, edição do Morgado de Mateus, Paris, 1817
87 - ( Os ventos e as Ninfas )
Grinaldas manda pôr de várias
cores
Sobre cabelo; louros à porfia.
Quem não dirá que nascem roxas
flores
Sobre ouro natural, que Amor
enfia?
Abrandar determina, por amores,
Dos ventos a nojosa companhia,
Mostrando-lhe as amadas Ninfas
belas,
Que mais formosas vinham que as
estrelas.
88
Assim foi; porque, tanto que
chegaram
A vista delas, logo lhe falecem
As forças com que dantes
pelejaram,
E já como rendidos lhe obedecem.
Os pés e mãos parece que lhe
ataram
Os cabelos que os raios escurecem.
A Bóreas, que do peito mais
queria,
Assim disse a belíssima Oritia:
89
"Não creias, fero Bóreas, que te
creio
Que me tiveste nunca amor
constante,
Que brandura é de amor mais certo
arreio,
E não convém furor a firme amante.
Se já não pões a tanta insânia
freio,
Não esperes de mi, daqui em
diante,
Que possa mais amar-te, mas temer-te;
Que amor contigo em medo se
converte."
90
Assim mesmo a formosa Galateia
Dizia ao fero Noto, que bem sabe
Que dias há que em vê-la se
recreia,
E bem crê que com ele tudo acabe.
Não sabe o bravo tanto bem se o
creia,
Que o coração no peito lhe não
cabe,
De contente de ver que a dama o
manda,
Pouco cuida que faz, se logo
abranda.
91
Desta maneira as outras amansavam
Subitamente os outros amadores;
E logo à linda Vênus se
entregavam,
Amansadas as iras e os furores.
Ela lhe prometeu, vendo que
amavam,
Sempiterno favor em seus amores,
Nas belas mãos tomando-lhe
homenagem
De lhe serem leais esta viagem.
Desembarque de Vasco da Gama em Calecute - Canto VII
Recepção do Catual que conduz os portugueses ao Samorim
(conjunto de estrofes 42 a 56
Ilustração de Fragonard para Os Lusíadas, edição de Mateus, Paris, 1817
42 - ( Desembarque do Gama )
Assim contava o Mouro; mas vagando
Andava a fama já pela cidade
Da vinda desta gente estranha, quando
O Rei saber mandava da verdade.
Já vinham pelas ruas caminhando,
Rodeados de todo sexo e idade,
Os principais, que o Rei buscar mandara
O Capitão da armada, que chegara.
43
Mas ele, que do Rei já tem licença
Para desembarcar, acompanhado
Dos nobres Portugueses, sem detença
Parte, de ricos panos adornado.
Das cores a formosa diferença
A vista alegra ao povo alvoroçado.
O remo compassado fere frio
Agora o mar, depois o fresco rio.
44
Na praia um regedor do Reino estava,
Que na sua língua Catual se chama,
Rodeado de Naires, que esperava
Com desusada festa o nobre Gama.
Já na terra, nos braços o levava,
E num portátil leito uma rica cama
Lhe oferece, em que vá, costume usado,
Que nos ombros dos homens é levado.
Segunda audiência do Samorim - Canto VIII
A seu pedido Vasco da Gama é recebido pelo Samorim que acredita nas suas palavras e deixa-o regressar às naus. (conjunto de estrofes 57 a 78)
Lustração de Fragonade para Os Lusíadas do Morgado de Mateus, Paris, 1817
59 - ( Fala do Gama ao Samorim )
Sentado o Gama junto ao rico leito,
Os seus mais afastados, pronto em vista
Estava o Samori no trajo e jeito
Da gente, nunca de antes dele vista.
Lançando a grave voz do sábio peito,
Que grande autoridade logo aquista
Na opinião do Rei e do povo todo,
O Capitão lhe fala deste modo:
60
"Um grande Rei, de lá das partes
Onde
O céu volúvel, com perpétua roda,
Da terra a luz solar com a terra
esconde,
Tingindo a que deixou de escura noda,
Ouvindo do rumor que lá responde
O eco, como em ti da Índia toda
O principado está, e a majestade,
Vínculo quer contigo de amizade.
Na Ilha dos Amores - Canto IX
Desembarque dos portugueses e recepção das Ninfas. Tétis recebe Vasco da Gama no seu palácio.
(conjunto de estrofes 51 a 92)
Ilustração de Alexandre Desenne para Os Lusíadas, edição do Morgado de Mateus, Paris, 1817
68 - ( Enxergam os portugueses as Ninfas )
Começam de enxergar subitamente
Por entre verdes ramos várias
cores,
Cores de quem a vista julga e
sente
Que não eram das rosas ou das
flores,
Mas da lã fina e seda diferente,
Que mais incita a força dos
amores,
De que se vestem as humanas
rosas,
Fazendo-se por arte mais
formosas.
70 - Caça às Ninfas
"Sigamos estas Deusas, e
vejamos
Se fantásticas são, se
verdadeiras."
Isto dito, velozes mais que
gamos,
Se lançam a correr pelas
ribeiras.
Fugindo as Ninfas vão por entre
os ramos,
Mas, mais industriosas que
ligeiras,
Pouco e pouco sorrindo e gritos
dando,
Se deixam ir dos galgos
alcançando.
72 - As Ninfas no Banho
Outros, por outra parte, vão
topar
Com as Deusas despidas, que se
lavam:
Elas começam súbito a gritar,
Como que assalto tal não
esperavam.
Umas, fingindo menos estimar
A vergonha que a força, se
lançavam
Nuas por entre o mato, aos olhos
dando
O que às mãos cobiçosas vão
negando.
73 -
Outra, como acudindo mais
depressa
A vergonha da Deusa caçadora,
Esconde o corpo n'água; outra se
apressa
Por tomar os vestidos, que tem
fora.
Tal dos mancebos há, que se arremessa,
Vestido assim e calçado (que,
coa mora
De se despir, há medo que ainda
tarde)
A matar na água o fogo que nele
arde.
74 -
Qual cão de caçador, sagaz e
ardido,
Usado a tomar na água a ave
ferida,
Vendo no rosto o férreo cano
erguido
Para a garcenha ou pata
conhecida,
Antes que soe o estouro, mal
sofrido
Salta n'água, e da presa não
duvida,
Nadando vai e latindo: assim o
mancebo
Remete à que não era irmã de
Febo.
77 - ( As flores )
"Todas de correr cansam,
Ninfa pura,
Rendendo-se à vontade do
inimigo,
Tu só de mi só foges na
espessura?
Quem te disse que eu era o que
te sigo?
Se to tem dito já aquela
ventura,
Que em toda a parte sempre anda
comigo,
Ó não na creias, porque eu,
quando a cria,
Mil vezes cada hora me mentia.
83 - ( Idílios Amorosos )
Ó que famintos beijos na
floresta,
E que mimoso choro que soava!
Que afagos tão suaves, que ira
honesta,
Que em risinhos alegres se
tornava!
O que mais passam na manhã, e na
sesta,
Que Vênus com prazeres
inflamava,
Melhor é experimentá-lo que
julgá-lo,
Mas julgue-o quem não pode
experimentá-lo.
85 - ( Tethys e o Gama )
Uma delas maior, a quem se
humilha
Todo o coro das Ninfas, e
obedece,
Que dizem ser de Celo e Vesta
filha,
O que no gesto belo se parece,
Enchendo a terra e o mar de
maravilha,
O Capitão ilustre, que o merece,
Recebe ali com pompa honesta e
régia,
Mostrando-se senhora grande e
egrégia.
88 - ( Revelação do Simbolismo na Ilha dos Amores
)
Assim a formosa e a forte
companhia
O dia quase todo estão passando,
Numa alma, doce, incógnita
alegria,
Os trabalhos tão longos
compensando.
Porque dos feitos grandes, da
ousadia
Forte e famosa, o mundo está
guardando
O prêmio lá no fim, bem
merecido,
Com fama grande e nome alto e
subido.
89 - ( As flores )
Que as Ninfas do Oceano tão
formosas,
Tethys, e a ilha angélica
pintada,
Outra coisa não é que as
deleitosas
Honras que a vida fazem
sublimada.
Aquelas proeminências gloriosas,
Os triunfos, a fronte coroada
De palma e louro, a glória e
maravilha:
Estes são os deleites desta
ilha.
90 - (Os Deuses )
Que as imortalidades que fingia
A antigüidade, que os ilustres
ama,
Lá no estelante Olimpo, a quem
subia
Sobre as asas ínclitas da Fama,
Por obras valorosas que fazia,
Pelo trabalho imenso que se
chama
Caminho da virtude alto e
fragoso,
Mas no fim doce, alegre e
deleitoso:
91 - ( As flores )
Não eram senão prêmios que
reparte
Por feitos imortais e soberanos
O mundo com os varões, que
esforço e arte
Divinos os fizeram, sendo
humanos.
Que Júpiter, Mercúrio, Febo e
Marte,
Eneias e Quirino, e os dois
Tebanos,
Ceres, Palas e Juno, com Diana,
Todos foram de fraca carne
humana.
92 - ( A Fama. Conselhos aos que
aspiram a Glória )
Mas a Fama, trombeta de obras
tais,
Lhe deu no mundo nomes tão
estranhos
De Deuses, Semideuses imortais,
Indígetes, Heróicos e de Magnos.
Por isso, ó vós que as famas
estimais,
Se quiserdes no mundo ser
tamanhos,
Despertai já do sono do ócio
ignavo,
Que o ânimo de livre faz
escravo.
Audiência de D. Manuel I a Vasco da Gama - Canto X . estrofe 144
Chegada à Pátria
Ilustração de Fragonard para Os Lusíadas, edição do Morgado de Mateus, Paris, 1817
Nesta décima o Poeta ao falar em nome de todos os bravos marinheiros que se foram à descoberta da Índia - dignos representantes de uma Raça de homens valentes - ao oferecer ao Rei temido e amado a glória de um feito como até então não tinha havido outro, bem mereciam se não fora a tolice de uns certos senhores após a Revolução de 25 de Abril de 1974 que de uma assentada mudaram tudo, dando até, abusivamente, o nome da Ponte que atravessa o rio Tejo de PONTE 25 DE ABRIL - sem que para tal a Revolução tivesse obrado algo que fosse - que o título deste dia continuasse a ter alusão ao "Dia da Raça".
Não o quiseram honrar deste jeito e, no entanto, foi a "Raça" destes homens que Luís de Camões glorificou para sempre no seu LIVRO IMORTAL que tornaram possível um Portugal que foi grande e, hoje, sem termos - de modo algum - perdido o sentido da "Raça", embora repartidos pelas "sete partidas do Mundo", continuamos em cada "partida" a demonstrar de que "Raça" somos!
Lamenta-se, apenas, que Portugal não tenha sabido guardar no seu seio este POVO enorme que "descobriu Mundos" e, por falta, de meios económicos assista à sua debandada, semeando por tantos lados do MUNDO físico as sementes da "Raça" que fez dele gente capaz e honrada.
Meus queridos irmãos, desta Pátria única, eu sei que nunca a esquecereis, porque a Pátria de Luís de Camões que morreu com ele em 1580, ergueu-se sessenta anos depois para continuar livre para sempre!
144 - ( Regressam os nautas a
Portugal )
Assim foram cortando o mar
sereno,
Com vento sempre manso e nunca
irado,
Até que houveram vista do
terreno
Em que nasceram, sempre desejado.
Entraram pela foz do Tejo ameno,
E à sua pátria e Rei temido e
amado
O prémio e glória dão por que
mandou,
E com títulos novos se ilustrou.
Nesta décima o Poeta ao falar em nome de todos os bravos marinheiros que se foram à descoberta da Índia - dignos representantes de uma Raça de homens valentes - ao oferecer ao Rei temido e amado a glória de um feito como até então não tinha havido outro, bem mereciam se não fora a tolice de uns certos senhores após a Revolução de 25 de Abril de 1974 que de uma assentada mudaram tudo, dando até, abusivamente, o nome da Ponte que atravessa o rio Tejo de PONTE 25 DE ABRIL - sem que para tal a Revolução tivesse obrado algo que fosse - que o título deste dia continuasse a ter alusão ao "Dia da Raça".
Não o quiseram honrar deste jeito e, no entanto, foi a "Raça" destes homens que Luís de Camões glorificou para sempre no seu LIVRO IMORTAL que tornaram possível um Portugal que foi grande e, hoje, sem termos - de modo algum - perdido o sentido da "Raça", embora repartidos pelas "sete partidas do Mundo", continuamos em cada "partida" a demonstrar de que "Raça" somos!
Lamenta-se, apenas, que Portugal não tenha sabido guardar no seu seio este POVO enorme que "descobriu Mundos" e, por falta, de meios económicos assista à sua debandada, semeando por tantos lados do MUNDO físico as sementes da "Raça" que fez dele gente capaz e honrada.
Meus queridos irmãos, desta Pátria única, eu sei que nunca a esquecereis, porque a Pátria de Luís de Camões que morreu com ele em 1580, ergueu-se sessenta anos depois para continuar livre para sempre!
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