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domingo, 10 de junho de 2018

Lembrando Luís de Camões no dia 10 de Junho


O dia 10 de Junho no tempo do Estado Novo era conhecido como o "Dia da Raça", lembrando o insigne Poeta Luís de Camões que uma Pátria abandalhada deixou morrer a pedir esmola àquele que foi pela sua pena Ilustre o celebrado autor de "Os Lusíadas", o Livro maior dos feitos da raça portuguesa.

Depois da Revolução de 25 de Abril de 1974. o "Dia da Raça" foi substituído pelo "Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas", assinalando a morte do Poeta em 1580 - ano em que Portugal perdeu a independência a favor do reinado filipino da nossa vizinha Espanha - como se o Poeta da Raça pelo poder da morte não quisesse que a sua vida fosse para além daquela data funesta.

Lembrar Luís de Camões, no Dia que a Pátria lhe dedica é um dever nacional.

Razão mais que suficiente para lhe dedicar esta lembrança singela de um português que não viu de modo algum meritório ter-se retirado o título "Dia da Raça", porquanto, bem merecia ter continuado a existir no novo título agora dado ao dia 10 de Junho, porque em vez de "Dia de Portugal" não vinha nenhum mal ao Mundo se se lhe chamasse "Dia da Raça, de Camões e das Comunidades Portuguesas", porque só o poder da "Raça" deste Povo que se fundiu numa "Raça" apurada do velho Luso é que tornou possível o Poema Épico de Luís de Camões.

Primeiro retrato de Luís de Camões ao natural. Deve-se a Fernando Gomes

Concílio dos Deuses - Canto I . estrofe 33
Ilustração de Desenne para Os Lusíadas - edição de Morgado de Mateus, Paris, 1817
Luís de Camões nas estofes 20 a 41 descreve o Concílio dos Deuses, no Olimpo e apresenta Vénus com o seu voto de favor aos portugueses

33 -    ( Vênus, Favorável aos Portugueses )

        Sustentava contra ele Vênus bela, 
        Afeiçoada à gente Lusitana, 
        Por quantas qualidades via nela 
        Da antiga tão amada sua Romana; 
        Nos fortes corações, na grande estrela, 
        Que mostraram na terra Tingitana, 
        E na língua, na qual quando imagina, 
        Com pouca corrupção crê que é a Latina. 

Visita do rei de Melinde a Vasco da Gama - Canto II - estrofe 110
Ilustração de Fragonard para Os Lusíadas - edição do Morgado de Mateus, Paris, 1817
Na estrofe 111 Luís de Camões refere assim a visita a visita do rei de Melinde. hoje uma cidade do Quénia na costa do Índico situada a norte de Mombaça.

111 -  ( Continuação da fala 
          do Rei de Melinde ao Gama )

        "E não menos co'o tempo se parece 
        O desejo de ouvir-te o que contares; 
        Que quem há, que por fama não conhece 
        As obras Portuguesas singulares? 
        Não tanto desviado resplandece 
        De nós o claro Sol, para julgares 
        Que os Melindanos têm tão rudo peito, 
        Que não estimem muito um grande feito.  

Sonho de D. Manuel I, no qual lhe aparecem os rios Indo e Ganges
Canto IV - estrofes 73 e 74
Ilustração de Fragonard para Os Lusíadas, edição do Morgado de Mateus, Paris, 1817

73 -    ( Fala do Ganges a D. Manoel )

        "Este, que era o mais grave na pessoa, 
        Destarte para o Rei de longe brada: 
        — "Ó tu, a cujos reinos e coroa 
        Grande parte do mundo está guardada, 
        Nós outros, cuja fama tanto voa, 
        Cuja cerviz bem nunca foi domada, 
        Te avisamos que é tempo que já mandes 
        A receber de nós tributos grandes. 

74 -    ( Profecias )

        — "Eu sou o ilustre Ganges, que na terra 
        Celeste tenho o berço verdadeiro; 
        Estoutro é o Indo Rei que, nesta serra 
        Que vês, seu nascimento tem primeiro. 
        Custar-te-emos contudo dura guerra; 
        Mas insistindo tu, por derradeiro, 
        Com não vistas vitórias, sem receio, 
        A quantas gentes vês, porás o freio."

O Gigante Adamastor - Canto V, estrofes 49 e 50
Vasco da Gama conclui o relato da viagem até Melinde, circunstanciado a passagem da Cabo das Tormentas, rumo a norte. Sofala. Rio dos Bons sinais. através do conjunto de estrofe 61 a 91
Ilustração de Fragonard para Os Lusíadas, edição do Morgado de Mateus, Paris, 1817

49 - ( Adamastor narra ao Gama sua vida )

        "Mais ia por diante o monstro horrendo 
        Dizendo nossos fados, quando alçado 
        Lhe disse eu: — Quem és tu? que esse estupendo 
        Corpo certo me tem maravilhado.— 
        A boca e os olhos negros retorcendo, 
        E dando um espantoso e grande brado, 
        Me respondeu, com voz pesada e amara, 
        Como quem da pergunta lhe pesara: 
50

        — "Eu sou aquele oculto e grande Cabo, 
        A quem chamais vós outros Tormentório, 
        Que nunca a Ptolomeu, Pompônio, Estrabo, 
        Plínio, e quantos passaram, fui notório. 
        Aqui toda a Africana costa acabo 
        Neste meu nunca visto Promontório, 
        Que para o Pólo Antarctico se estende, 
        A quem vossa ousadia tanto ofende. 

Vénus abranda a fúria dos ventos - Canto VI
(conjunto de estrofes 85 a 91)
Ilustração de Fragonard para Os Lusíadas, edição do Morgado de Mateus, Paris, 1817

87 - ( Os ventos e as Ninfas )

        Grinaldas manda pôr de várias cores 
        Sobre cabelo; louros à porfia.  
        Quem não dirá que nascem roxas flores 
        Sobre ouro natural, que Amor enfia? 
        Abrandar determina, por amores, 
        Dos ventos a nojosa companhia, 
        Mostrando-lhe as amadas Ninfas belas, 
        Que mais formosas vinham que as estrelas. 

88

        Assim foi; porque, tanto que chegaram 
        A vista delas, logo lhe falecem 
        As forças com que dantes pelejaram, 
        E já como rendidos lhe obedecem. 
        Os pés e mãos parece que lhe ataram 
        Os cabelos que os raios escurecem. 
        A Bóreas, que do peito mais queria, 
        Assim disse a belíssima Oritia: 
89

        "Não creias, fero Bóreas, que te creio 
        Que me tiveste nunca amor constante, 
        Que brandura é de amor mais certo arreio, 
        E não convém furor a firme amante. 
        Se já não pões a tanta insânia freio, 
        Não esperes de mi, daqui em diante, 
        Que possa mais amar-te, mas temer-te; 
        Que amor contigo em medo se converte." 
90

        Assim mesmo a formosa Galateia  
        Dizia ao fero Noto, que bem sabe  
        Que dias há que em vê-la se recreia,  
        E bem crê que com ele tudo acabe.  
        Não sabe o bravo tanto bem se o creia,  
        Que o coração no peito lhe não cabe, 
        De contente de ver que a dama o manda, 
        Pouco cuida que faz, se logo abranda. 

91

        Desta maneira as outras amansavam 
        Subitamente os outros amadores; 
        E logo à linda Vênus se entregavam, 
        Amansadas as iras e os furores. 
        Ela lhe prometeu, vendo que amavam, 
        Sempiterno favor em seus amores, 
        Nas belas mãos tomando-lhe homenagem 
        De lhe serem leais esta viagem. 
  
Desembarque de Vasco da Gama em Calecute - Canto VII
Recepção do Catual que conduz os portugueses ao Samorim
(conjunto de estrofes 42 a 56
Ilustração de Fragonard para Os Lusíadas, edição de Mateus, Paris, 1817

42 -  ( Desembarque do Gama )

        Assim contava o Mouro; mas vagando
        Andava a fama já pela cidade
        Da vinda desta gente estranha, quando
        O Rei saber mandava da verdade.
        Já vinham pelas ruas caminhando,
        Rodeados de todo sexo e idade,
        Os principais, que o Rei buscar mandara
        O Capitão da armada, que chegara.

43

        Mas ele, que do Rei já tem licença
        Para desembarcar, acompanhado
        Dos nobres Portugueses, sem detença
        Parte, de ricos panos adornado.
        Das cores a formosa diferença
        A vista alegra ao povo alvoroçado.
        O remo compassado fere frio
        Agora o mar, depois o fresco rio.

44

        Na praia um regedor do Reino estava,
        Que na sua língua Catual se chama,
        Rodeado de Naires, que esperava
        Com desusada festa o nobre Gama.
        Já na terra, nos braços o levava,
        E num portátil leito uma rica cama
        Lhe oferece, em que vá, costume usado,
        Que nos ombros dos homens é levado.

Segunda audiência do Samorim - Canto VIII
A seu pedido Vasco da Gama é recebido pelo Samorim que acredita nas suas palavras e deixa-o regressar às naus. (conjunto de estrofes 57 a 78)
Lustração de Fragonade para Os Lusíadas do Morgado de Mateus, Paris, 1817

59 -  ( Fala do Gama ao Samorim )

        Sentado o Gama junto ao rico leito,
        Os seus mais afastados, pronto em vista
        Estava o Samori no trajo e jeito
        Da gente, nunca de antes dele vista.
        Lançando a grave voz do sábio peito,
        Que grande autoridade logo aquista
        Na opinião do Rei e do povo todo,
        O Capitão lhe fala deste modo:
 
60

        "Um grande Rei, de lá das partes Onde
        O céu volúvel, com perpétua roda,
        Da terra a luz solar com a terra esconde,
        Tingindo a que deixou de escura noda,
        Ouvindo do rumor que lá responde
        O eco, como em ti da Índia toda
        O principado está, e a majestade,
        Vínculo quer contigo de amizade.

Na Ilha dos Amores - Canto IX
Desembarque dos portugueses e recepção das Ninfas. Tétis recebe Vasco da Gama no seu palácio.
(conjunto de estrofes 51 a 92)
Ilustração de Alexandre Desenne para Os Lusíadas, edição do Morgado de Mateus, Paris, 1817

 68 - ( Enxergam os portugueses as Ninfas )

Começam de enxergar subitamente
Por entre verdes ramos várias cores,
Cores de quem a vista julga e sente
Que não eram das rosas ou das flores,
Mas da lã fina e seda diferente,
Que mais incita a força dos amores,
De que se vestem as humanas rosas,
Fazendo-se por arte mais formosas.

70 - Caça às Ninfas

"Sigamos estas Deusas, e vejamos
Se fantásticas são, se verdadeiras."
Isto dito, velozes mais que gamos,
Se lançam a correr pelas ribeiras.
Fugindo as Ninfas vão por entre os ramos,
Mas, mais industriosas que ligeiras,
Pouco e pouco sorrindo e gritos dando,
Se deixam ir dos galgos alcançando.


72 - As Ninfas no Banho

Outros, por outra parte, vão topar
Com as Deusas despidas, que se lavam:
Elas começam súbito a gritar,
Como que assalto tal não esperavam.
Umas, fingindo menos estimar
A vergonha que a força, se lançavam
Nuas por entre o mato, aos olhos dando
O que às mãos cobiçosas vão negando.

73 -

Outra, como acudindo mais depressa
A vergonha da Deusa caçadora,
Esconde o corpo n'água; outra se apressa
Por tomar os vestidos, que tem fora.
Tal dos mancebos há, que se arremessa,
Vestido assim e calçado (que, coa mora
De se despir, há medo que ainda tarde)
A matar na água o fogo que nele arde.

74 -

Qual cão de caçador, sagaz e ardido,
Usado a tomar na água a ave ferida,
Vendo no rosto o férreo cano erguido
Para a garcenha ou pata conhecida,
Antes que soe o estouro, mal sofrido
Salta n'água, e da presa não duvida,
Nadando vai e latindo: assim o mancebo
Remete à que não era irmã de Febo.

77 - ( As flores )

"Todas de correr cansam, Ninfa pura,
Rendendo-se à vontade do inimigo,
Tu só de mi só foges na espessura?
Quem te disse que eu era o que te sigo?
Se to tem dito já aquela ventura,
Que em toda a parte sempre anda comigo,
Ó não na creias, porque eu, quando a cria,
Mil vezes cada hora me mentia.

83 - ( Idílios Amorosos )

Ó que famintos beijos na floresta,
E que mimoso choro que soava!
Que afagos tão suaves, que ira honesta,
Que em risinhos alegres se tornava!
O que mais passam na manhã, e na sesta,
Que Vênus com prazeres inflamava,
Melhor é experimentá-lo que julgá-lo,
Mas julgue-o quem não pode experimentá-lo.

85 -  ( Tethys e o Gama )

Uma delas maior, a quem se humilha
Todo o coro das Ninfas, e obedece,
Que dizem ser de Celo e Vesta filha,
O que no gesto belo se parece,
Enchendo a terra e o mar de maravilha,
O Capitão ilustre, que o merece,
Recebe ali com pompa honesta e régia,
Mostrando-se senhora grande e egrégia.

88 -  ( Revelação do Simbolismo na Ilha dos Amores )

Assim a formosa e a forte companhia
O dia quase todo estão passando,
Numa alma, doce, incógnita alegria,
Os trabalhos tão longos compensando.
Porque dos feitos grandes, da ousadia
Forte e famosa, o mundo está guardando
O prêmio lá no fim, bem merecido,
Com fama grande e nome alto e subido.

89 - ( As flores )

Que as Ninfas do Oceano tão formosas,
Tethys, e a ilha angélica pintada,
Outra coisa não é que as deleitosas
Honras que a vida fazem sublimada.
Aquelas proeminências gloriosas,
Os triunfos, a fronte coroada
De palma e louro, a glória e maravilha:
Estes são os deleites desta ilha.

90 -  (Os Deuses )

Que as imortalidades que fingia
A antigüidade, que os ilustres ama,
Lá no estelante Olimpo, a quem subia
Sobre as asas ínclitas da Fama,
Por obras valorosas que fazia,
Pelo trabalho imenso que se chama
Caminho da virtude alto e fragoso,
Mas no fim doce, alegre e deleitoso:

91 -  ( As flores )

Não eram senão prêmios que reparte
Por feitos imortais e soberanos
O mundo com os varões, que esforço e arte
Divinos os fizeram, sendo humanos.
Que Júpiter, Mercúrio, Febo e Marte,
Eneias e Quirino, e os dois Tebanos,
Ceres, Palas e Juno, com Diana,
Todos foram de fraca carne humana.

92 - ( A Fama. Conselhos aos que aspiram a Glória )

Mas a Fama, trombeta de obras tais,
Lhe deu no mundo nomes tão estranhos
De Deuses, Semideuses imortais,
Indígetes, Heróicos e de Magnos.
Por isso, ó vós que as famas estimais,
Se quiserdes no mundo ser tamanhos,
Despertai já do sono do ócio ignavo,

Que o ânimo de livre faz escravo. 

Audiência de D. Manuel I a Vasco da Gama - Canto X . estrofe 144
Chegada à Pátria
Ilustração de Fragonard para Os Lusíadas, edição do Morgado de Mateus, Paris, 1817

144 - ( Regressam os nautas a Portugal )

Assim foram cortando o mar sereno,
Com vento sempre manso e nunca irado,
Até que houveram vista do terreno
Em que nasceram, sempre desejado.
Entraram pela foz do Tejo ameno,
E à sua pátria e Rei temido e amado
O prémio e glória dão por que mandou,

E com títulos novos se ilustrou.

Nesta décima o Poeta ao falar em nome de todos os bravos marinheiros que se foram à descoberta da Índia - dignos representantes de uma Raça de homens valentes - ao oferecer ao Rei temido e amado a glória de um feito como até então não tinha havido outro, bem mereciam se não fora a tolice de uns certos senhores após a Revolução de 25 de Abril de 1974 que de uma assentada mudaram tudo, dando até, abusivamente, o nome da Ponte que atravessa o rio Tejo de PONTE 25 DE ABRIL - sem que para tal a Revolução tivesse  obrado algo que fosse - que o título deste dia continuasse a ter alusão ao "Dia da Raça".

Não o quiseram honrar deste jeito e, no entanto, foi a "Raça" destes homens que Luís de Camões glorificou para sempre no seu LIVRO IMORTAL que tornaram possível um Portugal que foi grande e, hoje, sem termos - de modo algum - perdido o sentido da "Raça", embora repartidos pelas "sete partidas do Mundo", continuamos em cada "partida" a demonstrar de que "Raça" somos!

Lamenta-se, apenas, que Portugal não tenha sabido guardar no seu seio este POVO enorme que "descobriu Mundos" e, por falta, de meios económicos assista à sua debandada, semeando por tantos lados do MUNDO físico as sementes da "Raça" que fez dele gente capaz e honrada.

Meus queridos irmãos, desta Pátria única, eu sei que nunca a esquecereis, porque a Pátria de Luís de Camões que morreu com ele em 1580, ergueu-se sessenta anos depois para continuar livre para sempre!

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