Jornal "O António Maria" de 7 de Setembro de 1882
Já se esperava o dito de Francisco Assis, relatado pelo
jornal "i" desta data:
Sócrates fez tudo “aquilo que naqueles momento se impunha”,
mas não se esperava a afirmação de se deverem culpas à Europa na quase falta de liquidez que nos aconteceu, tomando todos os
portugueses por indiferentes à causa pública, ou - o que é pior - desmiolados. Eu faço a
justiça de haver, na pré-bancarrota de 2011, culpas da Europa, mas não posso
aceitar a inverdade, o lavamento da culpa de Sócrates e do próprio Francisco
Assis, que ao tempo do governo era o líder parlamentar da bancada do PS no
Parlamento Português.
Faz pena ver a conquista dos votos - do próximo dia 25 de Maio - roubar a lucidez a homens
inteligentes, contrapondo-lhes uma outra espécie de lucidez chamada orgulhosa,
pelo facto de não assumirem os seus próprios erros, quando deviam equilibrar a
balança com o máximo de felicidade a que todos temos direito, mas também, com o máximo da
lucidez.
Sobre isto, vale a pena ler este excerto de André
Compte-Sponville, in, "A Felicidade, Desesperadamente": O que é a sabedoria? É a felicidade na
verdade, ou «a alegria que nasce da verdade». Esta é a expressão que Santo
Agostinho utiliza para definir a beatitude, a vida verdadeiramente feliz, em
oposição ás nossas pequenas felicidades, sempre mais ou menos factícias ou
ilusórias. Sou sensível ao facto de que é a mesma palavra beatitude que
Espinoza retomará, bem mais tarde, para designar a felicidade do sábio, a
felicidade que não é a recompensa da virtude mas a própria virtude... a
beatitude é a felicidade do sábio, em oposição às felicidades que nós, que não
somos sábios, conhecemos comumente, ou, digamos, às nossas aparências de felicidade,
que às vezes são alimentadas por drogas ou álcoois, muitas vezes por ilusões,
diversão ou má-fé. Pequenas mentiras, pequenos derivativos, remedinhos,
estimulantezinhos... não sejamos severos demais. Nem sempre podemos
dispensá-los. Mas a sabedoria é outra coisa. A sabedoria seria a felicidade na
verdade.
A sabedoria? É uma
felicidade verdadeira ou uma verdade feliz. Não façamos disso um absoluto,
porém. Podemos ser mais ou menos sábios, do mesmo modo que podemos ser mais ou
menos loucos. Digamos que a sabedoria aponta para uma direcção: a do máximo de
felicidade no máximo de lucidez.
Não, Francisco Assis.
Não vale - não deviam valer, como pretende, na caça que quer
fazer aos incautos - pequenas mentiras, pequenos derivativos. remedinhos,
estimulantezinhos... porque, esteve lá, na bancada a ver e a aprovar com o seu
voto as medidas megalómanas de José Sócrates, num tempo que já impunha
contenção e se continuou a abrir os cordões a uma bolsa vazia, levando-a à
vergonha de a encher com dinheiro emprestado e, que agora, vamos pagar - uns
poucos de nós, porque estamos velhos - deixando o sabor amargo do que nos
cumpre pagar para os nossos filhos e para os nossos netos.
Esta, é a lucidez da verdade!
Na linha do que afirma o Presidente da República, temos problemas
na próxima vintena de anos - no mínimo - porque, "estamos vendidos"
ao capital que importamos para não afundarmos o País.
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