MOMENTO DECISIVO
O Sol descia ao poente,
E florente estava o prado;
Ouviam-se auras suaves
E das aves o trinado.
Tu sentada ao pé da fonte
O horizonte contemplavas
Vias o Sol declinando
E, corando, suspiravas.
E depois... seria acaso?
Do ocaso a vista ergueste,
E, ao olhar-me, mais coraste,
Suspiraste e emudeceste.
Foi bem rápido o momento
Dum alento repentino;
Porém nesse olhar de fogo
Eu li logo o meu destino.
Nesse olhar, no rubor vivo,
No furtivo respirar...
Diz, tu mesma nessas letras
Não soletras já: amar?
1860
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Uma poesia de amor de Júlio Dinis espelhada num quadro de puro e sonhado romantismo, em que o autor após descrever a suavidade calma da paisagem que ele humaniza com o par de namorados de que ele faz parte, descreve-o enamoradamente, dando-lhe toda a fulgurância de um amor - dos poucos que teve - em que, ele vê, no olhar da sua amada quando ela deixa de olhar o "ocaso" do dia e o olha, corando, um amor que surgia.
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