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sábado, 21 de maio de 2016

A Igreja da Trindade, na cidade do Porto

in, revista "O Occidente" de 20 de Junho de 1906
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A Igreja da Trindade localizada-se na Praça da Trindade por trás do edifício da Câmara Municipal do Porto, tendo a sua construção ocorrido em pleno século XIX, com a abertura ao público em 1841, correndo uma lenda que naquele lugar teria ocorrido uma visão da Santíssima Trindade, com os anjos cantando o Tantum Ergo Scramentum.


Tão Grande

O Sacramento tão grande
Veneremos curvados,
E a Antiga Lei
Dê lugar ao Novo Rito.
A fé venha suprir.
A fraqueza dos sentidos.

A Pai e ao Filho
Saudemos com brados de alegria.
Louvando-os, honrando-os, dando-lhes
Graças e bendizendo-os!
Ao Espírito que procede de ambos
Demos os mesmos louvores!

Amém

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Na capela-mor destaca-se o painel de grandes dimensões do pintor José de Brito, representando o Baptismo de Cristo e cuja notícia coeva se respigou da revista "O Occidente", que no seu número 989 - da data assinalada - apresenta a bela gravura reproduzida.

É um dos monumentos que merecem, sempre que vou ao Porto, a minha visita não só pelo meu cunho espiritual que ali me leva, mas também, pela beleza da arquitectura que fazem da Igreja da Trindade e dos seus arredores um local que encanta o forasteiro mais exigente.


sexta-feira, 20 de maio de 2016

Devia ter acontecido o mesmo...

Gravura publicada pela revista "A Paródia" 
de 22 de Fevereiro de 1900
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A gravura teve como inspiração umas eleições locais havidas no Porto em 15 de Janeiro de 1900 e que voltaram a ser repetidas, como se prevê, por aquilo que era o fruto das "habilidades" do costume, naquela época e, assim., quando os vencedores da 1ª volta se preparavam par subir e escada do poder uma "Maria da Fonte" abanou a escada e foi o que se viu: 

A queda política dos falsos "ganhadores"... com o então Tribunal de Verificação de Poderes a anular as eleições para 18 de Fevereiro.

Devia ter acontecido o mesmo no passado dia 4 de Outubro de 2015... mas acabou a justiça que entendeu que o bloco político constituído depois da eleições estava correcto... e acabaram as "Marias da Fonte"... e sobraram, por demais os espertos e sabidos... sobretudo, o que de derrotado passou a vencedor.

As coisas que acontecem no Portugal deste tempo, tão parecidas com aquilo que acontecia nos tempos terminais da Monarquia..

Olhando e pensando na velha gravura de cariz político...


Gravura de Rafael Bordalo Pinheiro publicada pela revista "A Paródia" 
de 17 de Janeiro de 1900
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Não me ocorre qualquer prazer em repor a velha gravura bem conhecida - e na gíria popular designada por um nome que omito por decoro - ao ver o que se passa no tempo actual, onde parece, que a filiação partidária, mais uma vez levou a palma...
  • Porque é que Rafael Bordalo Pinheiro e a sua arte pictórica eivada de crítica social com fundamento político, continua actual mais de um século depois?
  • Culpa de quem?
  • Certamente, dos que se esquecem que há desenhos intemporais... mas que, por culpa alheia estão dentro do tempo.
Olhando e pensando na velha gravura de cariz político dá-me vontade de pedir mais alinhamento... mas, pedir a quem?

Como não temos juizo... continuamos a "cantar de galo"!

Gravura publicada pela revista "A Paródia" 
de 7 de Fevereiro de 1900
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Naquela época, Portugal estava a braços com a bancarrota de 1892, corolário da crise iniciada em 1890, mas pelos vistos, tal como Rafael Bordalo Pinheiro a viu, Portugal - uma galinha choca - continuava a cantar de galo, mesmo que este tivesse bem escrito no dorso a palavra EMPRÉSTIMOS, como a gravura documenta.

Na actualidade Bruxelas bate o pé e exige novas medidas... mas irresponsavelmente, António Costa, parece o velho galo da gravura de 1900... embora pareça que o relacionamento com o Presidente da República está algo chamuscado, como ontem aconteceu, no Porto, na inauguração do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde.

Num dado passo, levou o PR a referir-se a António Costa sobre o seu "optimismo crónico e ligeiramente irritante" e para, depois, ao olhar os lados bons e maus da realidade, e sendo preciso não ensombrar o lado bom, acentuar: “Escusa é de o fazer de forma excessiva Sr. primeiro-ministro. Mas pode fazê-lo com os pés assentes no chão. Apesar de tudo há optimismos minimamente racionais”.

Tudo isto veio a propósito na semana em que António Costa optou por desvalorizar os comentários de Bruxelas sobre a necessidade de consolidar as medidas orçamentais deste ano para cumprir as metas do Pacto de Estabilidade... pondo-se a "cantar de galo", mas tudo isto me parece que é para consumo interno e agradar, em primeiro lugar aos parceiros que lhe garantem o lugar de Primeiro Ministro e, depois, ao povo que tem de ter a sabedoria de não mais ser levado por estes cantares de galo.

"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades"...


Paquete "Santa Maria"


No nº 1 da apresentação da revista "PORTUGAL COLONIAL" editado em Março de 1931, o seu Director, Henrique Galvão, publica um editorial que, visto agora à distância de 85 anos, é um paradigma de como, tal como disse, num célebre soneto, Luís de Camões:  

 Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
 Muda-se o ser, muda-se a confiança:
 Todo o mundo é composto de mudança,
 Tomando sempre novas qualidades.

Vale a pena a leitura e ter em conta o seu autor, assim como vale a pena pensar no génio do Poeta, que séculos antes viu como é volúvel o comportamento dos homens - o que não é um mal por provar que ser inteligente como é - adquire comportamentos vanguardistas consoante a evolução da leitura que faz dos tempos - como aconteceu com Henrique Galvão, que de apoiante de Sidónio Pais - um reformista - o foi de Salazar que lhe confiou a responsabilidade pela secção colonial da Exposição do Mundo Português, em 1940 e, depois, participa e organiza a Administração das Colónias, vindo a ser governador da Huila, e acrescentando a tudo isto a faina de escritor de livros sobre a vida colonial.

Mas tudo isto não bastou que não se viesse a afastar da ditadura de Salazar por volta dos anos 50 que lhe valeu a prisão política e a expulsão da vida militar, até à sua fuga hospitalar e a sua ida para a Venezuela, onde em 1959 escreve a famosa "CARTA ABERTA A SALAZAR", um documento rude e sarcástico sobre o chamado "Estado Novo", até que em 1961 se torna o principal instigador do assalto ao paquete "Santa Maria" que ele rebaptiza de "Santa Liberdade" em ordem à "Operação Dulcineia" virada contra o regime.

É por tudo isto, porque, mudam~se os tempos, mudam-se as vontades, que a leitura do editorial de 1931 da revista "PORTUGAL COLONIAL" não deixa de ser um documento histórico de como, aos homens que fazem do pensamento uma escola evolutiva dos tempos, é merecida a sua aprendizagem, porque, e voltando a Camões, todo o tempo é composto de mudança...
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A tristeza em mim chove...


Vai-te carta, vai-te carta...


Ó meu amor, meu amor...


Até as flores, minha querida...


Da miséria e da desgraça...


Olha bem para as saudades...


Quanto mais falo contigo...


Que não tenho coração...


Chama-se amor ao desejo...