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domingo, 14 de abril de 2019

No "Jardim das Oliveiras" - Um soneto de Auta de Sousa"



E tudo começou nu Domingo a que a tradição cristã chama Domingo de Ramos.

Naquele Dia Jesus entrou em Jerusalém para cumprir a sua última visita e para ser condenado à morte, como Ele sabia às mãos dos que não lhe perdoavam  a ousadia de os desafiar.

Na  quarta feira seguinte  como diz o soneto, depois de um momento de grande reflexão, afastou-se "silencioso"no Jardim das Oliveiras" e foi rezar com os olhos postos no Céu sem que desse acto tivesse ficado uma só Palavra, mas apenas o gesto

terça-feira, 19 de março de 2019

"Momento Decisivo" - Um poema de JúlioDinis



MOMENTO DECISIVO

O Sol descia ao poente,
E florente estava o prado;
Ouviam-se auras suaves
E das aves o trinado.

Tu sentada ao pé da fonte
O horizonte contemplavas
Vias o Sol declinando
E, corando, suspiravas.

E depois... seria acaso?
Do ocaso a vista ergueste,
E, ao olhar-me, mais coraste,
Suspiraste e emudeceste.

Foi bem rápido o momento
Dum alento repentino;
Porém nesse olhar de fogo
Eu li logo o meu destino.

Nesse olhar, no rubor vivo,
No furtivo respirar...
Diz, tu mesma nessas letras
Não soletras já: amar?

1860
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Uma poesia de amor de Júlio Dinis espelhada num quadro de puro e sonhado romantismo, em que o autor após descrever a suavidade calma da paisagem que ele humaniza com o par de namorados de que ele faz parte, descreve-o enamoradamente, dando-lhe toda a fulgurância de um amor - dos poucos que teve - em que, ele vê, no olhar da sua amada quando ela deixa de olhar o "ocaso" do dia e o olha, corando, um amor que surgia.

segunda-feira, 4 de março de 2019

Um momento no jardim!


      E A NATUREZA RENASCE!


No meu passo pequeno - que os anos já pesam - passei pelo Jardim, e num dado momento parei os meus passos ante o espectáculo que os meus olhos viam estampados num momento de beleza que recebia de graça.

Por ele dei graças a Deus!

À minha frente a árvore tenra na sua juventude vegetal oferecia-me nas folhas que se abriam, verdes como a minha esperança de a voltar a  ver já ramalhuda e forte depois de vencidos os tempos desta Primavera que se aproxima e a canícula lhe tenha dado mais cor, para me oferecer mais um motivo de encanto e me motivar para agradecer à Natureza o meu hino de amor que neste dia apenas esbocei, enquanto atrás dela, graciosa,  uma outra árvore mais forte, de flores imaculadamente brancas, se vestira de noiva da Natureza para lhe agradecer os meses de um namoro que ela lhe pediu e recebeu, e que só aparentemente é que estivera amuado na dormência em que a Natureza se recolhe no cumprimento de uma lei que a tanto a obriga em cada em cada ano que passa.

Segui, depois desta meditação em que o meu sentimento me permitiu dizer de mim para mim que, eu mesmo, hei-de pela graça de Deus remoçar mais uma vez...
- Até quando?
Deus o sabe!

domingo, 3 de março de 2019

VIII Domingo do Tempo Comum - Ano C - 3 de Março de 2019

Evangelho de S. Lucas 6, 39-45
O verdadeiro discípulo
Jesus disse-lhes ainda esta parábola: «Um cego pode guiar outro cego? Não cairão os dois nalguma cova? Não está o discípulo acima do mestre, mas o discípulo bem formado será como o mestre. Porque reparas no argueiro que está na vista do teu irmão, e não reparas na trave que está na tua própria vista? Como podes dizer ao teu irmão: ‘Irmão, deixa-me tirar o argueiro da tua vista’, tu que não vês a trave que está na tua? Hipócrita, tira primeiro a trave da tua vista e, então, verás para tirar o argueiro da vista do teu irmão.»
A árvore e seus frutos
«Não há árvore boa que dê mau fruto, nem árvore má que dê bom fruto. Cada árvore conhece-se pelo seu fruto; não se colhem figos dos espinhos, nem uvas dos abrolhos. O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o que é bom; e o mau, do mau tesouro tira o que é mau; pois a boca fala da abundância do coração.»

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Senhor Jesus: leio este pequeno pedaço do Teu Apóstolo e fico a meditar que - se fosse possível - não deixaria de Te fazer as seguintes perguntas:
  • Porque foste assim tão incisivo naquilo que propunhas aos homens, se estes,se comprazem  muito mais em  ver os defeitos no outro que olharem para si mesmos?
  • Porque havias de ter dito que antes de limar o seu defeito, o homem, parecendo ser serviçal se propunha em emendar  no outro o seu defeito, esquecendo-se,de, antes se emendar a si mesmo?
Eis porque, com estas imposições, seguir o Evangelho "à risca" tem-se tornado para os homens vulgares de todos os tempo uma tarefa tão difícil que muitos se tornam agnósticos e outros ateus, quando não caem na indiferença total à Tua Pessoa.
  • Será que pediste demais. ou como querias desejaste que cada um se tornasse um "discipulo bem formado" para ser "como o mestre", ou seja parecido contigo?
Foi isto o que pediste e nada mais. 
E foi assim porque não podias transigir.
Porque não vieste ao Mundo para que os homens, depois da Tua presença, não se emendassem dos maus passos que vinham dando, fazendo do amor ao próximo uma caricatura.
Só que este mundo vaidoso passado já tanto tempo, ainda não entendeu, verdadeiramente, o que disseste naquele dia, por desejar continuar a viver "à tripa forra", o que quer dizer, sem amarras, especialmente as religiosas como estas, esquecendo-se que os frutos bons só podem provir da boa árvore, e esta para dar frutos sazonados tem de estar plantada com as raízes bem fundas no Tesouro da Palavra que deixaste, para que os homens se fundassem no poder da sabedoria, para que esta se pudesse parecer com a daquele "mestre" de que falas: Tu mesmo.

Tu rezas e eu fico mudo...


sábado, 2 de março de 2019

Um homem bom


Cónego Dr. João António de Sousa
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Atrás dele está a Igreja de Nossa Senhora do Amparo de Benfica que ele serviu com Pároco desde 1983 a 2007, sempre com a doação destinadas aos eleitos por uma Divindade que lhe deu a sabedoria do aprumo fértil que soube por a render no Templo e nas suas aulas de Professor de eclesiologia.

Lembro-o, hoje, porque na roda do Tempo dei com um documento escrito pelo seu punho, onde semanalmente o teólogo que vivia escondido na sua postura sacerdotal se punha em contacto com as pessoas.

Faz agora anos - não sei quantos - dizia assim, no documento que guardo: 

"A nossa experiência de todos os dias, confirmada pelos dados da comunicação social, mostra que vivemos num clima de violência. Desde assaltos na rua para pequenos roubos até ao terrorismo organizado em certos Países. multiplicam-se os actos criminosos que facilmente levam ao desejo da desforra, segundo a conhecida lei de Talião" "olho por olho, dente por dente". È a tentação de responder à violência com  a violência, numa reacção em cadeia"..

E este documento continua com o sacerdote virado sobre os ditames evangélicos que faziam parte do seu "múnus" orientador segundo as linhas programáticas deixadas por Jesus aos seus Apóstolos: 

"Pois bem, está aqui um ponto em que o Evangelho manifesta toda a sua originalidade, constituindo um verdadeiro desafio para os seguidores de Cristo. Ele quer que os seguidores tenham a coragem de resistir a essa tentação e a esse círculo de violência, convidando-os a atravessar a fronteira que os separa dos seus inimigos, para se chegarem a eles e os abraçarem como irmãos, filhos do mesmo Pai que está nos Céus".

Era na sua linha pastoral o homem de paz que sempre foi.

Tive com ele na minha qualidade de leigo interessado nas coisas da Igreja Romana, uma actuação de grande proximidade de trabalho eclesial, servindo através dele a Igreja nos dezoito anos em que exerci as funções de Secretário do Conselho Pastoral Paroquial que me deu aso a ter estabelecido com este estimado Amigo e meu Prior uma amizade sincera que durou desde que o conheci em 1983 até ao dia da sua morte, numa maca onde o visitei colocada num corredor do Hospital de Santa Maria, em Lisboa.

Lembro-o,hoje, por estar cumprido um ano que deixou o convívio dos vivos para repousar o sono eterno em Casais da Igreja, sua terra natal, com a certeza que tenho que é leve a terra que o cobre, como deseja um bem conhecido ditado popular quando morre um homem  bom: "Que a terra lhe seja leve".

Assim seja meu muito prezado Amigo, João António de Sousa.

"Pudor" - Um poema de Miguel Torga


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Volto de novo a Miguel Torga.

E volto, com a esperança de que os estimados leitores deste "blog", sintam que o retorno a um Poeta desta grandeza se justifica pela sinceridade que foi um bem precioso que fez dele um vulto importante na Poesia Portuguesa - pela forma como a sentiu, viveu e no-la transmitiu - chega a ser comovente a sua relação com Deus, próxima e distante, como ele nos diz, no momento em que o sentiu perto e ficou "mudo" depois de O ter "namorado na distância".

Foi isto que aconteceu na sua juventude.

E foi, por isso, que o meu pensamento se voltou, todo inteiro para o convertido Paul Claudel e do que resultou do seu encontro com a obra de Rimbaud, especialmente uma simples brochura de que ele diz: "Para mim foi de facto uma iluminação. Libertava-me por fim desse mundo asqueroso de Taine, de Renan e dos outros (....) era a revelação do sobrenatural. O génio aparece aí sob a forma mais sublime e maia pura, como inspiração vinda realmente não se sabe de onde"

A Miguel Torga faltou na sua vida alguém que se parecesse com Rimbaud e, por isso, não teve a dita que teve Paul Claudel que acabou convertido a Deus, tendo dito no fim da sua luta com Ele, que no fim "ninguém pode entrar  senão nu nos conselhos do amor de Deus", porquanto, senão nos despojamos das vestes mundanas, tudo se torna mais difícil.

Foi o que faltou a Miguel Torga.

sexta-feira, 1 de março de 2019

"Esperança" - Um poema de Miguel Torga


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Compreendo perfeitamente em toda a pujança literária deste poema do ilustre Poeta de S. Martinho de Anta, porque pertenço a uma certa classe de portugueses que nutrem por Miguel Torga uma admiração sem fronteiras religiosas, porquanto este alto espírito levou a sua vida sem  entender em toda a plenitude o lado cognocível de Deus, pelo que quando ele afirmou que gostava de beber daquele "cálice profano", que foi assim que ele o viu plasmado no seu sentimento humano ao dizer que o via cheio "de um vinho herético e sagrado", o que esta expressão nos diz é a sua confissão sincera de se sentir viver nesta dualidade de recusa e procura da divindade, mas tendo a noção que no seu "cálice profano" havia um vinho sagrado igual àquele com que Jesus brindou na Última Ceia - comparando-o ao seu sangue humano ante os seus Amigos - para depois se entregou aos algozes que o penduram na Cruz.

Deus, creio sinceramente, recebeu Miguel Torga no seu amplo Amor que tem por todos aqueles que na sinceridade das sua vidas inquietas por não sentirem a Sua presença nos pequenos nadas, ainda assim viveram  e O sentiram nas dúvidas e nas certezas que de vez em quando afloram por entre o "herético e sagrado" e é, por isso, que eu nutro pelo ilustre Poeta uma admiração sem limites.

"E disse Deus"- Um soneto de Mons. Moreira das Neves


"Apelo"- Um poema de Miguel Torga



quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

A palavra certa é para ser dita no momento certo!



A Palavra no Momento Certo

Uma grande parte da infelicidade no mundo tem sido causada por confusão e fracasso de não se dizer a palavra certa no momento certo. Uma palavra que não é proferida no momento certo é prejudicial, e tem sido sempre assim. Porque é que uma classe da população deveria ter medo de ser honesta com outra? De que é que têm medo?
Fiodor Dostoievski, in 'Escritos Ocasionais'
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Há  um célebre axioma popular português que diz assim:

"Anda meio mundo a enganar o outro meio!

Lendo o seu profundo e esclarecedor significado - pensando no meio mundo enganador - até parece que na Pátria de Dostoievki, possivelmente, por outras palavras de acordo com o léxico russo, se diz o mesmo, e ele teria sido a fonte inspiradora do afamado escritor, porquanto se uma parte, ainda que não seja a metade de classe de pessoas, não diz à outra a "palavra certa no momento certo", acaba por dar prejuízo à verdade, que no dizer do nosso grande homem das Letras, Miguel Torga, no seu dizer cheio de sentido, quando se falta à verdade, este facto fazia-lhe lembrar a "velha história dos castelos de heroísmo e fidelidade, com a portinha da traição disfarçada nas muralhas"..., razão, porque dizer a "palavra certa no momento certo"  como diz Dostoievski no seu pensamento, tem sempre a virtude da franqueza que não deixa encoberta "com a portinha da traição" aquilo que se quis esconder do outro.

Eis, porque, neste passo, considero sábios o escritor russo e nosso ilustre transmontano.